Foste

Disseste que a tua vida era melhor que a minha.

Disseste que era louca. Ciumenta, obsessiva, controladora.

Disseste que não cabias em mim. Que te apertava, que te sufocava, que cortava a respiração.

Disseste que os teus dias eram melhores que os meus. Que não vivia, que não sabia, que não lia, que não ía ao cinema, que não me vestia bem, que não usava baton…

Cada dia eu fiquei mais pequena, mais pequena, mais pequena … Tinha a certeza de que não poderia viver contigo. Não duvidava de que não poderia viver sem ti.

Um dia, nos meus pequenos e tristes dias, apanhei o comboio. Levei o livro, para ver se lia. Sentei-me. Senti um olhar em cima de mim. Senti que crescia. Senti o calor. Sorri, envergonhada.

Não eras tu. Era outro.

E o outro disse que eu era tão encantadora. Desde esse dia, nunca mais me largou, sufocou-me, não me deixou respirar. Viveu por mim e para mim. Mas eu gostei. Todas as vezes que ele me cortava a respiração eu crescia tanto. E assim os meus dias tornaram-se melhores do que os teus.

Agora, dizes que os meus passos são únicos. Que não há ninguém assim.

Agora … agora é tarde. Demasiado tarde.

E eu não me importo nada com isso. Foste.