Igreja de Sta. Clara - Porto

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Igreja de Sta. Clara - Porto

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No ano de 1758 escrevia-se sobre a igreja de Santa Clara: 
É a mais perfeita e asseada deste Reino, toda coberta de talha de ouro, e azul. 

A Igreja do Convento de Santa Clara, é o melhor exemplo que se pode apontar numa cidade fortemente timbrada pelo fenómeno do barroco. A Arte da Talha dourada e policromada, é uma das expressões que mais a notabiliza, enfatizando dessa forma a apropriação dos princípios da Reforma Católica (Natália Marinho Ferreira-Alves). 

Faz parte de um conjunto de edifícios - igrejas forradas a ouro - em que a madeira entalhada e policromada ocupa todas as superfícies parietais e coberturas do espaço sacro, provocando no crente a evasão sensorial e elevando-o a uma realidade supra-humana. O trabalho de talha da capela-mor e arco cruzeiro é a obra-prima de Miguel Francisco da Silva, arquitecto e entalhador, um dos melhores intérpretes do barroco joanino no Porto. 

A fundação do Convento de Santa Clara no Porto teve lugar no dia 28 de Março de 1416, em acto processional de grande solenidade, estando ao lado do Bispo D. Fernando Guerra, o próprio rei D. João I, e os príncipes Fernando e Afonso. Colheu desde a fundação o envolvimento da realeza. 
Desta primeira fase são poucos os testemunhos materiais que resistiram. 

De tempos mais recentes merece referência o claustro, como construção que revela a assimilação dos princípios mais puros do maneirismo. Em 1667 tratam as monjas da construção do mirante. A transição do século XVII para o seguinte foi ainda assinalada por obras múltiplas nos dormitórios (1707-1715), portaria (com interessante portal de composição barroca) e dois coros. 

A partir de 1729 inicia-se o ciclo de transformação da igreja naquilo que hoje se mantem. 

O acesso à igreja faz-se lateralmente, como é regra nos conventos femininos, uma vez que do lado oposto à capela-mor se situavam os coros das religiosas. À entrada um pórtico em que se entrecruzam formas tardo-góticas e da renascença, sendo este no exterior o único elemento de algum recorte plástico, no conjunto da austeridade e singeleza revelado pela construção. 

O interior é formado pela nave, capela-mor e do lado oposto, os coros alto e baixo, com as respectivas grades de clausura que separavam os contactos entre fiéis e religiosas. 

Em 1729, sendo abadessa D. Isabel Visitação, promovem-se obras de pedraria na capela-mor, que visaram sobretudo, aumentar a altura dos muros e do arco triunfal tornando o espaço mais amplo e luminoso. Estas obras foram orientadas pelo arquitecto António Pereira, que na época dirigia transformação paralela na Sé do Porto. Estes mesmos princípios renovadores alastraram em 1732 à nave, demarcando-se a nova altura a partir das tribunas. Uma vez mais a preocupação da luz com a abertura de lunetas por cima das tribunas. Em planta, a igreja mantinha a forma anterior. 

A principal transformação foi conseguida não pela arquitectura mas pelo efeito cenográfico da talha e é nesta arte que as monjas polarizam o seu interesse, tornando-se a arquitectura anulada pelo efeito das formas reluzentes do cromatismo da talha e da imaginária que cobrem todas as estruturas interiores.

Em 1730 a obra de talha da capela-mor e arco cruzeiro foi arrematada por Miguel Francisco da Silva. Um programa complexo sob o ponto de vista formal e iconográfico, sendo a banqueta e o sacrário posteriores. O resultado alcançado fazem do artista um vulto maior do barroco portuense, e da igreja conventual de Santa Clara uma das jóias da arte barroca portuguesa, quer pela qualidade estética quer pela coerência de todo o conjunto. 

texto-Manuel Joaquim Moreira da Rocha 
Dep.Ciências e Técnicas do Património 
Faculdade de Letras-Porto

 

 

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