Ardo

 

Ardo

Português

Que sempre sonhou.um dia escuro, sem alma, nem corpo.
sonhos apagado sem fio. cabeça vazia de tudo a correr.
escuro que a luz quer acender. escuro com a luz te chama.
chama da vela a arder. o corpo sem alma, alma sem corpo.
são vários dias. se calhar anos, o que seria vazio arde.
a janela fechada, a cortina que arde, e que com gosto ela a vê a arder.
sem alma, sem corpo, ela vai arder também. no escuro percebe-se tudo.
é no escuro que se vê a alma do corpo vazio a arder sem luz.
se olhar para o relógio o ponteiro arde a olhar para mim.
eu ardo a olhar para ti, a cortina também, sem vela.
a torneira pinga, ao pé da janela, vão cruzar com o que nos une.
é o que arde por dentro e por fora do chão que não piso. 
a mesa que está a querer que fiques, que não ardas sem ela.
deixa rasto, como a cortina da janela. se não conseguires sussurra-lhe.
a chama da vela que me consome ajudará a seguir os teus passos que não pisam o chão.
o chão a arder, que apaga o escuro que nos atormenta nos dias passados.
não fujas sem arder, não corras no chão pisado, arde com as minhas mãos quentes.

e foi assim que a casa da janela ardeu, com duas almas sem almas, nem corpo.
foi a janela que se fechou, e a cortina que ardeu. a mesa fez-se em cinzas.
a torneira a pingar era o refugio. elas não quiseram. as almas arderam.
foram andar pelo chão que nunca pisaram, o chão sem cinzas. o rasto que alguém deixou.
esse alguém podes ter sido tu. ainda bem que foste tu. eu pisei o mesmo chão que tu.
se o chão arder, eu ardo, tu ardes. e assim ficamos, em cinzas.

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