Ciclos

 

Ciclos

Português

    I

Nos últimos tempos
planei rasando os teus locais
dos quais decorei
a cor e o sabor
de em tantos outros tempos
a eles regressar

tomei-lhes então o pulso veloz
e bebi-lhes as vontades 
como o mais ébrio dos seres

na descoordenação dos passos
nestas nossas melodias
fiz-me música

e ouviste
por saberes que tudo em nós
é tão em demasia
que chega a ser tão pouco

nada nos chega, nada satisfaz
na fome que nos esgota 
em horas que respiram
e se erguem
no mundo dos Homens

que moram lá longe
na terra do lado de fora
da janela ou de nós

       II

hoje sei que me sentes
na ausência do meu corpo
quando vou para esses outros lugares
em que arrasto anjos caídos
e outras histórias
que sei já de cor

em que nunca estás
e que antecederam em muito
a tua própria criação

tomei-os pelas rédeas
como aos cavalos selvagens
mas tantas horas há 
em que me deixo eu levar

e queria poder dizer-te
que não me repito nem ecoo 
na cadência das horas

   III

e nas minhas luas 
sou também o ser
que ateia as cidades 
para que ardam na tua passagem
e se consumam no tempo de um fósforo

e procuro-te
para ter onde atracar amarras
e criar portos
para não partir 
nunca mais

e encontro-te
ou encontras-me tu
nesse fulgor de lençóis
que te compus
com o mais puro ´
que tinha para te dar

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