Não tenho palavras. Até poderia dar-se o caso de te conseguir falar das leis da física e da atracção mas não, não tenho palavras. Se acaso encontraste os meus passos por aí largados nalguma esquina, ou perdidos, não interessa, porque procuravam os teus, talvez o saibas, ou sintas como uma urgência desperdiçada em desencontros, que hoje seria um bom dia para escrever poemas, não fosse essa tua mania de me deixares os termos em suspenso, gotas de chuva diluvial estagnando a meio caminho entre o céu e a terra. E eu, mero vagabundo circulando entre umas e outras vasculhando-lhes o convexo como se os cantos às ruas no simples ensejo de te descobrir neles, quem sabe até rever-me nalgum olhar esquecido no interior dalguma dessas gotas, daqueles olhares deixados como que distraidamente só para não sentires; talvez não queiras saber não ser; mágoa por não me teres no reflexo. E eu, mero suspiro contando nas estrofes vazias sílabas caídas nunca chegadas a gotas, que essas, já nem de água são mas de seiva aquecida em desejo, esfriada no vão acorde dos silêncios que articulam medrosas profecias. Porque os dias, os outros, não hoje, são poemas onde não vive sequer a sombra do teu perfume colando-se às palavras que não consigo largar onde pudessem ser somente beijo. E no entanto vives nelas. Como as gotas do meu suor indagando pelo teu. Ou o teu diluindo-se no meu; quem sabe.
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