A_cores

 

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Português
Fotógrafo: 

Éramos quatro à beira-mar numa ilha de bruma. Bicicletas, três canas de pesca, uma tenda e o tempo. Muito tempo e uma correria de imagens carregadas de cores primárias.

Esta é a história de um crustáceo que teima em andar para trás, que tenta vingar no cimo de uma rocha à procura de alimento ou de um buraco-esconderijo. Que foge à potencial ameaça de um indicador humano ou das ondas que não se cansam de salgar, em lufadas de mar fresco, em respingos de vida.
É a história de uma vizinhança marinha que nos abisma por rabos de baleia que se mostram em frações de segundo, ou nos faz enamorar por guinchinhos atrevidos de Comuns, Roazes, Pintados ou Riscados. Onde um pedaço de basalto transpira humidade, denuncia marés, floresce numa hortênsia e acaba adormecido num vulcão.
A história de um monte protegido por uma Senhora Guia e por uma caldeira que sugere uma caminhada de aromas, uma expedição de sentimentos, um arco-íris de sentidos. Aqui onde a omnipresente humidade provoca forçadas inspirações como se os pulmões habitassem numa constante neblina, numa inquieta viagem em busca de um fio de ar sem teias de aranha.
É a canção de uma baía que embala uma regata no canal, que abraça um veleiro à bolina, que sustenta o poder absoluto e merecido de uma cidade-mar.
É também a história de uma terra sob o olhar atento de outra, que do alto da montanha se transforma em ilhéu iluminado. Vaidosa montanha essa, que muda de figura a cada dia, que luta por aparecer nua numa tentativa de deslumbre, como se imponente não bastasse. 
Namoramos por olhares, escrevemo-nos sem dar conta, sem registo em papel ou caneta, gravando fotograficamente na memória e na pele. Aqui, apaixono-me todos os dias e mais um bocadinho por este tempo que é só nosso. Apaixono-me todos os dias e mais um bocadinho por ti. 
Nesta história em película colorida, sustentada por um ninho de cagarros, ao cair de uma noite decorada com pontinhos de constelações… tenho a impressão que sim. Tenho a impressão que a Lua começa a sorrir e nós corremos sem olhar para trás.

Ana Pinto

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