Aroma

 

Aroma

Português

Ainda me sobras em todos os finais de dia em que te tenho em demasia. Continuas em overdose onde já devias estar diluída. Ainda tenho excesso de ti em mim, na carne que me faz vivo, nos pensamentos que me fazem existir. O bafo ardente que expiro é um concentrado gasoso de ti; diante do espelho frágil no qual recordo o já lá vai atrás de mim, atrás de nós, condenso-te nele, desenhando-te o recorte suado do rosto projectado com os dedos cansados que um dia te beijaram a pele. Mas em ápices apressados, evaporas-te sempre. Perco-te assim, e de repente, para a entropia abstracta do ar aflito em apuros. É nesse caótico mexerico que tento reencontrar-te, inspirando-te a torto e a direito, num zig-zag constante seguindo confiantemente às cegas fio condutor do teu aroma primal com o qual me tornaste teu servo e indiferente ao resto do Mundo. E é assim que regresso, enfim, ao vício doentio de te sentir à bruta, contagiado com infatigável teimosia que me faz uma vez mais tropeçar, sem reacção e de cara chapada, para a profunda quarentena que desgraçadamente reconheço tão bem. Venha ela, vamos lá a isso!

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