Ausência

 

Ausência

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Era sempre da mesma maneira, não valia a pena. Por mais que tentasse alterar fosse o que fosse acabava igual a tantas outras, sem diferenças de referencia maior. Não que isso modificasse muito, mas podia ser diferente. Pelo menos para os outros dada a sua indiferença. Um ano ou mais a procurar ser genuinamente elegante com o seu exemplo acabava por derrubar toda e qualquer esperança. A vida, essa, corria. Subia a calçada, apressadamente como de costumo, e num saltinho aí está ele. Alto, esguio, complexo, acompanhava as sombras que misteriosamente o perseguiam. Ainda assim, aguardava outra vez lá no cimo. Tanto fazia se fosse de manhã ou de tarde, o que o entristecia, sabendo de antemão que uma vez mais era igual às demais vezes. Mais à frente perceberá que não era difícil, mas por hora não tinha resposta. Hoje era tarde, já pelas oito da noite e ainda havia dia. As sombras já prolongavam os figurantes que por ele se esquivavam. E continuava à espera. 

Nunca tinha o mesmo caminho, apesar de ir lá dar sempre. Novas estradas, novos passeios, novos cheiros a experimentar eram a sua vontade. Irreverente, sempre. Amanhã será diferente, pensava. Muitas vezes demorava o dobro do tempo, mas isso não importava nada. A sua manta era um experiência nova todos os dias. Essa sempre reconfortante. Saía à mesma hora e chegava sempre a horas diferentes. Gosto da diferença, dizia. Achava que o fim era sempre um multiusos de vivências, o que a alegrava. Sorria sozinha, contagiava e divertia-se muito.

Quis um Deus por agora ausente que nunca se encontrassem. O que poderia ter acontecido se por um acaso os seus olhos se cruzassem? Um final feliz? Uma sombra apenas? Uma vivência diferente?
Quem sabe...

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