Enquanto houver estrelas

 

Enquanto houver estrelas

Português

Quando Laura chegou em casa, o dia estava quase clareando. Tirou os sapatos e abriu a porta, evitando não fazer qualquer ruído, para que seus pais não percebessem a que horas ela havia voltado. Esta fora uma noite que ela jamais esqueceria. Naquele momento, o que ela mais desejava era deitar em sua cama e dormir. Dormir até não acordar mais. Se acordasse, lembraria de todo aquele pesadelo que vivera e isto era o que ela menos queria. Tirou a roupa que vestia e colocou uma camisola confortável e tentou dormir. Foi um sono agitado, cheio de pesadelos. Mesmo assim, custou a acordar. Quando abriu os olhos, tinha a nítida sensação de que estava afundando na cama e caindo em um abismo que não tinha fim. Tentou não pensar em nada, mas isto era quase impossível. Recordava cada segundo daquele baile de formatura. Ficara a espera de que Thomas a tirasse para dançar, mas as horas foram passando e ele dançou a valsa dos formandos e depois, dançou com algumas amigas e cada vez que rodopiava pelo salão, fingia que não via Laura, em pé, perto da pista de dança, esperando ansiosamente que ele a tirasse para dançar. Tinha certeza de que se conseguisse falar com ele, todo o mal entendido seria explicado e eles teriam a oportunidade de se despedir, não para sempre, mas com a certeza de que um dia, ele iria voltar. Laura sabia que ele voltaria para sua terra natal, quando se formasse e isto era algo que ela imaginava que jamais aconteceria. Havia uma aura de magia que os envolvia, quando estavam juntos e isso ela sabia que ele também sentia por ela. Fora imprudente, ao enviar a ele uma carta onde expunha os seus medos e dizia a ele que não queria vê-lo partir. Que era melhor que se separassem naquele momento, porque ela não suportaria dizer-lhe adeus. Ele recebeu a carta que Laura lhe enviou  e em resposta, disse que fizera tudo para amar, mas que mais uma vez, não conseguira. Que ele se sentia culpado, pois não sabia que Laura o amava tanto. Laura sentiu que o chão se abria naquele momento e que a tragava para a escuridão fria do esquecimento. Não se deu por vencida. Reuniu todas as suas forças e fora ao baile. Sabia que em algum momento ele a tiraria para dançar, então poderiam falar dos sentimentos que estavam ali, tão arraigados em sua pele como se os dois fossem uma só pessoa. E Laura esperou a noite inteira, parada no mesmo lugar, como se estivesse colada no chão. O baile acabou, as luzes se apagaram e o baile terminou. Ela não  o  viu em nenhum lugar. Foi como se Thomas tivesse se evaporado no ar. Com um peso enorme no coração e com uma dor tão grande no peito, que mal conseguia caminhar, voltou para casa amparada por dois amigos, que a acompanharam pelas ruas desertas de uma noite que nunca mais teria fim. Os dias se passaram e Laura nunca mais soube notícias dele. Um dia, uma amiga a convidou a ir numa vidente, que era muito conceituada, pois tudo o que ela dizia, tinha um fundo de verdade. Levou na bolsa duas fotos: A de Thomas e a de um outro amigo. Pretendia mostrar as fotos à vidente e perguntar a ela se reconhecia o homem por quem estava apaixonada. Quando a vidente viu as fotos, apontou prontamente para a foto de Thomas e lhe disse: este homem esteve perto de você há poucos dias e nem percebestes. Laura ficou petrificada, pois a vidente dissera uma grande verdade. À princípio, Laura não tinha entendido bem como Thomas pudera estar tão perto dela e não a chamara. Quando Laura ia para a faculdade, cada homem que passava por ela na rua, se parecia com o Thomas, talvez por isso ela não o tivesse reconhecido. Depois de pensar um pouco, lembrou de um dia estar indo para a faculdade e ter percebido um homem loiro  e  barbudo, que a seguira de carro por um longo tempo. Laura não deu maior importância aquele homem que a seguia, pois na sua mente, ela o via em todo o lugar. Passado algum tempo, Laura entrou em contato um amigo de faculdade de Thomas e soube que ele encontraria os amigos de faculdade e se reuniria com eles em um restaurante na cidade onde Laura morava. Sem acreditar que isso pudesse ser verdade, Laura pediu ao amigo que avisasse Thomas de que ela morava no mesmo lugar e queria muito vê-lo. Laura mal podia acreditar que iria vê-lo  mais uma vez, depois de cinco longos anos em que jamais deixara de pensar nele. E o dia chegou. Laura esperou por ele e mal pode acreditar que era ele mesmo batendo à porta de sua casa. Foi recebê-lo e mal podia conter a emoção, quando Thomas apareceu a sua frente, como se fosse um alguém vindo do passado para vê-la. Conversaram durante muito tempo, sentados na sacada da casa dela, observando as estrelas que tremeluziam no céu, como se cada uma delas estivesse curiosa para saber como aquela estória iria acabar. Thomas falou à Laura que estivera muito perto dela, algum tempo atrás e que a seguira na rua por um bom tempo, mas que não quisera se aproximar, temendo que ela estivesse casada. Ao ouvir aquilo, Laura se lembrou do que dissera a vidente e percebeu que ela havia acertado quando disse que Thomas estivera bem perto dela. Depois de algum tempo, Thomas foi embora. Se despediram com muito carinho, mas depois desse dia, nunca mais se viram. Laura continuou buscando em cada homem, algo que lembrasse um pouquinho aquele homem que tanto amara, mas nunca encontrou ninguém que lhe despertasse as mesmas sensações que experimentara ao lado de Thomas.Enquanto houver estrelas, Thomas viverá na lembrança de Laura para sempre.

 

 

Débora Benvenuti
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