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Sento-me na velha cadeira de madeira que permanece quieta e firme no chão da varanda como a força das raízes de uma árvore antiga e sábia que derrama o nascer deslumbrante da cor verde pelas folhas que surgem nos seus ramos.

Fecho os olhos. Respiro.

Abro os braços e deixo que o sol mergulhe em todo o meu corpo, beijando de uma maneira delicada mas intensa, o sentir da pureza da minha pele.

Inspiro profundamente invadindo de vida todas as minhas células e expiro sentindo que se desatam um a um os nós e se quebram as correntes que toda a minha tensão carrega e constrói.

Olho em frente e vejo a imensidão absolutamente bela do mar. Como brilha hoje por debaixo deste céu que um Deus fez de sua tela e o pintou com todo o amor que transbordava na sua alma pela deliciosa cor azul.

Deixo que tudo o que sou e tudo o que carrego morra neste momento e sinto uma paz imensa como se me transformasse numa brisa fresca primaveril ou apenas em nada. Ser nada, ter nada. Não é fascinante?

Levito. Parece que me entrego ao oceano da existência e me deixo afundar sem medos.. E por não ter medo de afundar permaneço flutuando na superfície tranquila, segura e em paz.

Abro os braços à Vida, ao Mundo, ao Universo, ao céu azul... E já não peço. Pedir pesa-me os ombros e a cabeça. Se eu peço e desejo estar bem e em paz significa que estou a experienciar uma realidade de desconforto e sofrimento então apenas respiro, apenas entrego, apenas deixo fluir a energia pelo meu corpo e logo toda a minha realidade se transmuta, se transforma em algo leve e maravilhoso.

É aqui que tudo começa, é aqui que a magia do Ser nasce. Aqui, no deixar morrer, no deixar ir.

É aqui, no largar tudo e no entregar-se de corpo e alma à vida, que a fonte infinita de amor incondicional do Ser nasce e se expande por todos os corpos, alimentando-os, preenchendo-nos, completando-nos. Como a luz do sol que derrama o seu brilho e o seu calor pelo mundo inteiro e não acaba, não esgota pois está ligada à sua essência, alimenta-se da sua própria luz e ao se integrar em si mesma cresce e expande cada vez mais, conseguindo iluminar os dias de cada um de nós incondicionalmente. De uma maneira linda, eterna. Grata. Gratidão.

É aqui que tudo começa, quando mergulhamos na luz do centro da nossa essência e deixamos que ela se expanda pelo nosso céu de nuvens brancas. E a partir daí cada célula do nosso corpo, cada átomo do nosso Ser começa a amar incondicionalmente e a encontrar felicidade em tudo o que vê.

E vem uma paz profunda… Grande… Gigante… Uma paz que encontrei agora ao ver o simples balançar suave das folhas que dançam ao sabor do vento, movimentando-se nos seus encontros, integrando-se na harmonia de viver.

Terei encontrado tudo isto que sinto naquilo que vejo ou terei me encontrado em tudo o que sinto?

A vida é uma tela branca que nós pintamos com as cores que escolhemos ter.

E quando abandonamos o plano cinzento do medo e abrimos as portas, deixando-nos mergulhar na magia que há em todas as cores existentes, torna-se tão bonito viver.

 

Laura Mendonça

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