Ela passa pelo outro lado da rua. Vai altiva e segura das suas pernas elegantes. Viram-se cabeças e os olhos fazem um banquete inesperado. Ela tem um cabelo feito de seda que dança na brisa como serpentes ondulantes, hipnotizantes, e um perfil desenhado no atelier de Olympus. Leva a delicadeza da asa de um pássaro nos saltos dos sapatos. O seu corpo é curvas e dá vida e graça a um vestido que, sem ele, não tem cor. Tem lábios que não sorriem mas prometem um néctar digno de uma garrafa empoeirada numa adega de luxo. E as exclamações deliciadas saltitam atrás dos seus passos de sereia em terra. Que maravilhosa a textura de manteiga que se adivinha na sua pele! Toda ela é o som de um violino que toca pela rua fora inspirando os espectadores surdos. Eles deslumbram-se com a perfeição, eles querem ser assim... uma imagem sem defeitos, deusa de visita aos mortais e sem problemas existenciais, mulher sem identidade com maquilhagem perfeita. Mas uma deusa também dorme... sózinha, num pijama de griffe e chora de forma perfeita, escondida atrás de um rímel à prova de lágrimas.
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