A (in)sanidade de quem ficou

 

A (in)sanidade de quem ficou

Português

            A minha mente parece que passa os dias a vaguear entre os limites da consciência e da inconsciência, da loucura e da sanidade. Como se estivesse a passear em cima dos muros de uma ponte, de braços abertos, ao sabor do vento, desequilibrando-se, por vezes, e caindo num dos extremos; como se procurasse a todo o custo desafiar a natureza, o seu próprio equilíbrio, provocando uma força indomável que a torna completamente instável. Os seus passos seguros e incertos (ao mesmo tempo) mostram que nada tem a perder e o sorriso no seu rosto revela, por vezes, loucura, e por outras, doçura; são passos de quem não tem onde ir e procura forçar todas as barreiras que mantém o seu equilíbrio, procurando encontrar, desta forma, algo que a faça sentir, que a faça voltar a si; talvez a loucura momentânea seja o princípio da linha que conduz ao reencontro; talvez a inconsciência seja fonte de libertação daquilo que, estando em equilíbrio, é reprimido. Não há possível entendimento, não há possível explicação, ou talvez hajam demasiadas, contudo, não plausíveis. Mais uma vez, rasgando o rio da loucura, voltando à sanidade segundos depois. Ela como que se obriga a si própria a reprimir tais sentimentos, pois este mundo equilibrado não é um lugar propiciador dos mesmos, e, talvez, rasgando entre a loucura, a inconsciência, o desequilíbrio, aquilo que está reprimido, sentindo-se em casa, possa ganhar asas e libertar-se, podendo ela, assim, voltar ao seu equilíbrio meio desequilibrado, isto é, voltar, também ela, à sua casa. São demasiados meses a viver na sua casa sentindo-se um hóspede passageiro e desconhecido; é demasiado tempo a viver dentro do seu corpo sem sentir que ele lhe pertence. Por mais que tente esta estratégia, quando as luzes se apagam e voltam a acender no dia seguinte, é como se começasse tudo de novo, como se nada tivesse sido libertado e tivesse que recomeçar a explorar os extremos do bem e do mal. Felizmente, a persistência não se evaporou (ainda); felizmente, há coisas que se perderam, que, muito lentamente (demasiado), estão a voltar. Uma mente só e que nada tem a perder: foi isso que ficou. Daí, resultou um medo gigantesco do outro, que a fazem ficar ainda mais só, e, assim, não se livra nem de um, nem de outro. Não é fácil ser as raízes que a mantém em pé e, em simultâneo, o vento que arrasa as folhas; não é fácil ser, em simultâneo, aquele que cai e aquele que ajuda a levantar; não é fácil conquistar um troféu e segundos depois perdê-lo; não é fácil ser aquele que recua dois passos quando no dia anterior havia avançado um passo; é fácil ir embora, é fácil magoar, e aquele que fica? O que faz com a dor e com o amor que ainda estava no seu auge? Tudo isto conduz à insanidade, ao gosto pela inconsciência, à procura da loucura, pois talvez aí as coisas façam mais sentido do que fazem no mundo real, talvez aí ela possa ser livre novamente (livre de dor, livre de amor).

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