Loira

 

Loira

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Loira, olhos verdes e um sorriso marcado pelo batom vermelho - Era esta a imagem que tinha ficado na cabeça e eu começava a ficar viciado nela. Nela, na imagem, não nela na rapariga - que quando falava não dizia nada e jeito, era uma parvinha. O conceito marcou-me de tal maneira, que sempre que via uma ponta de cigarro marcada com batom, o meu cérebro entrava em curto-circuito e lá ia eu por aquele mar de memórias.

O outro podia chamar-lhe de platónico mas também havia quem lhe chamasse obsessão. De qualquer maneira, dia após dia as memórias tornavam-se cada vez mais reais e quando eu achava que estava a ficar tolinho cheguei a conclusão que me apaixonava pela minha mente. Achei engraçado porque no fundo a minha mente apaixonava-se por ela mesma, pelas imagens e cenários hipotéticos que os meus sonhos criavam.

E os olhos verdes colocados num pedestal- mas não eram só os olhos, pois se de facto tivessem num pedestal seria um cenário arrepiante , digno de filmes do Hannibal Lecter. Era a forma como, por trás das pestanas e encaixados nas maças do rosto salientes, que tornava o objecto - os olhos - num sentimento que me partia todo - o olhar.

Acendia um cigarro e o Sol, como se iluminasse um monumento, fazia com que ela semi-cerrasse os olhos. E ela ficava ali, uns 5 minutos a contemplar e perdida no mundo dela. eu pensava que o Sol devia ter um pingo de bom gosto. Mas como sou um homem da ciencia sabia que o bom gosto do sol ia de Mercurio a Jupiter, sem abrir excepções. então eram as nuvens, que de facto tornavam aquele momento num monumento.

Que bela era ela. Iluminada. Até que o vento- esse inimigo das temperaturas amenas e sujeito de um temperamento complicado - trouxe as nuvens e lá se foi o sol. Mas nos meus olhos ela continuava iluminada. Que estranho - A Natureza confundiu-me agora. Porque razão a nossa mãe não quer a melhor versão dela mesma num pedestal? Foi nesta pergunta que quem se iluminou fui eu.

Uma luz, no meio das outras luzes não serve de nada, pois se deixa de brilhar a luz irá continuar, é na escuridão que a pequena luz irá fazer a diferença. E compreendi que através dos meus olhos, a Natureza contemplava-se a ela mesma.

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