Manto noturno

 

Manto noturno

Português

Cubro os ombros e as costas pela manta fina de cor bege e sento-me na velha cadeira apreciando as estrelas.
Ao longe ouve-se a água da ribeira que corre forte e intensamente como o sangue que é pulsado nas veias dos apaixonados.
Respiro o ar fresco que o anoitecer trouxe consigo e deixo que o meu olhar se perca na linha do horizonte.
A luz do poste da estrada ilumina as longas teias de aranha que envolvem os fios e as folhas da árvore fresca balançam suavemente como o toque delicado de uma mãe que embala um filho recém-nascido. 
O vento cria notas musicais entre as árvores que dançam até mim aliviando-me as preocupações de uma mente pesada.
De vez em quando passa um ou dois carros na estrada. É o suficiente para sentir alguma paz.
Ao longe ouve-se genuínos latidos de um cão e um autocarro leva passageiros calados de volta ao seu lar depois de um dia cansativo de trabalho.
Volto a ser chamada ao mar. Volto ao olhá-lo. Vejo-o.
Vejo-o através do meu coração e respiro.
O sábio velho homem de barbas e cabelos brancos e de olhos azuis acena-me sorrindo verdadeiramente como quem transborda amor e pureza pelo coração.
Já há algum tempo que não o sentia mas guardo sempre a sua doce memória no canto mais amoroso da minha alma.
Suspiro... Uma certa nostalgia invade-me o peito e transborda em mim como a lava de um vulcão que queima e derrama explodindo de amor e de vida.
Pergunto-me mergulhando na profundidade do meu silêncio:
Quem sou eu? Onde estou? Para onde vou? De onde venho? Como sou? O que sinto? A que cheiro? E o meu sabor? É doce ou amargo? E a minha alma? De que cor é? De que forma é? Onde é que ela está? Serei um corpo vazio? E os meus sentimentos? São tão quentes e amorosos... E os meus pensamentos? São tão ásperos e dolorosos.... E o meu coração?
Sim... E o meu coração?

 

Laura Mendonça

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