Meu Anjo

 

Meu Anjo

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Num céu sem fim, escuro como o negro e cercado pela escuridão, estava ela, coberta pelo manto da dor, perdida e abandonada pelos seus sonhos e esperanças. Sentada no mais alto e tenebroso rochedo da esplêndida praia, admirando o tempo e o mar e pedindo, aos Deuses, para lhe atenderem ao seu último desejo:

“Um dia serei totalmente esquecida, apenas uma memória ou vaga lembrança aqui ou acolá, mas o que mais peço é que vocês, Deuses dos Elementos, protejam as pessoas que amo e façam com que as lágrimas delas nunca sejam largadas, que sejam felizes.”, disse com lágrimas a correrem pela cara e a olhar para o negro céu.

Um sonoro estrondo é ouvido, o primeiro raio é visto, seguido pelo segundo, terceiro, quarto, quinto e por aí adiante e ela ali sentada no rochedo, sorriu … Uma dor aguda no peito, uma picada … não deixou de sorrir, sentia-se bem apesar de triste. Levantou-se e o longo vestido negro esvoaçava com a poderosa ventania que era completada pelo espetáculo que assistia. Outra picada no peito seguida de uma dor infernal. Ajoelhou-se e levou as mãos ao peito, sorriu mais uma vez, não iria ter mais medo, iria se entregar ao destino por ela traçado.

Deitou-se no rochedo e fechou os olhos com um sorriso nos lábios, puro e inocente, verdadeiro e sentido. Um Anjo de asas negras desceu os céus e viu-a deitada sem vida naquele rochedo, ergueu o corpo dela e levou-a a té ao seu quarto, deitando-a assim na cama. Dando-lhe um suave e singelo beijo nos lábios, sorriu e por fim lhe diz ao ouvido:

“Prometi que nunca te abandonaria e tu prometeste que nos íamos encontrar de novo.”, sorriu e foi-se embora, majestoso e misterioso.

Um funeral foi o que ela viu e reconheceu-se no caixão preto com linhas douradas desenhadas. Um vestido branco e os cabelos com ondas que lembravam o mar, parecia um Anjo ali deitada, adormecida. Olhou à volta do caixão, rosas brancas e vermelhas e ali se destacava um ramo de flores cor-de-rosa, brincos-de-princesa, a flor que mais gostava, surpreendeu-se. Continuou a ver o seu funeral e reparou nos presentes, familiares, amigos, colegas … mas um Anjo de negras asas também se encontrava ali. Foi até ele, riu como uma criança … ele … o seu amigo, o seu amor, estava lá, mas estava a chorar e a sorrir.

“Porque choras meu Anjo?”, pergunta-lhe, “Porque estou a ver o funeral da pessoa mais importante para mim…”, “E porque sorris então?”, “Porque agora podemos passar a eternidade juntos”, responde-lhe a olhar no fundo dos olhos dela.

Sorriam um para o outro e abandonaram o local, onde ela iria ser guardada na memória de alguns, esquecida aos poucos e talvez só recordada em duas datas … No aniversário do seu nascimento e no aniversário da sua morte.

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