Não me acordes agora.

 

Não me acordes agora.

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Sussurros. Ouço-os. E vejo-te, nessa dança incessante.
Indago-me... não te cansas?
Vejo-te assim, como um louco, nessa mesma dança que te desgasta, a pouco e pouco, à minha frente. E o sussurro, ouço-o. É estranho porque a tua expressão demonstra um grito ensurdecedor, forma um rugido feroz, e os teus olhos mostram uma certa, frustração, será? Mas ao que eu ouço, tudo não passa de um contínuo sussurro. Diria até, contínuo e doce sussurro.
Mantenho-me assim, e observo-te nessa luta contra mim, ou para mim. Penso que gostaria de perceber o que dizes, mas perco-me no melodioso sussurro que me derrete, e que me entristece. Deveria dizer-te que estou acordada, que consigo ver-te e, apesar de tudo, ouvir-te. Mas permaneço quieta.
És como um filme e eu, atenciosa telespectadora, aguardo, quieta e calada, pelo teu final. Pelo final dessa curiosa dança que me inquieta mas que me anestesia.
Não vês que te vejo? Não percebes que te ouço mas que não te quero ouvir?
A tua dança é uma surpresa. A tua presença é uma surpresa. Qualquer acção da minha parte pode termina-la mais rapidamente. Esquecer o sussurro que me embala e ouvir as palavras que bradas desesperadamente, será como quando alguém nos conta o final do filme, e isso estraga sempre tudo.
Vou ficar exactamente assim, desculpa, pois não sei como te dizer que te vejo. E que te ouço. Vou aguardar até ao final do espectáculo. Talvez te canses. Talvez me canse.

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