O Maverick Amarelo

 

O Maverick Amarelo

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Quando eu vi a foto de uma moto Honda amarela nas páginas de uma revista, me apaixonei. Fiz logo um consórcio e todos os meses, eu ia nas assembléias e tentava dar lances. Depois de uns três meses, meu pai decidiu que ia dar o lance mais alto e ia tirar a moto para mim. Mesmo não  concordando muito com a minha decisão, meu pai sempre atendia os meus pedidos. Quando fui retirar a moto, ainda não sabia pilotar. Pedi a um ex-namorado que retirasse a moto e me ensinasse. Aprendi muito rápido  e nos finais de semana, sair sem destino se tornou o meu hobby favorito. Para agradecer o presente, todos os finais de semana eu lavava o carro do meu pai, em frente a minha casa. Colocava um shorts e lá ficava eu limpando e polindo o carro. Um dia percebi que um maverick amarelo subia e descia a rua da minha casa e me olhava. Eu não sabia quem era, só vi que era um homem muito charmoso. Final de tarde, peguei a minha moto e fui passear, como era o meu hábito. Descendo a avenida principal da minha cidade, encontrei o cara do maverick. Ele me ultrapassou e pediu que eu parasse. Desceu do carro e veio falar comigo. Era meu vizinho e a partir daquele dia, passamos a namorar. Uma noite combinamos ir ao cinema e ele não apareceu. Eu não costumava ficar em casa esperando. Convidei a minha irmã e o namorado dela e fomos ver o filme que eu queria ver. Quando as luzes se acenderam, eu vi meu namorado com outra mulher, um pouco mais à minha frente. Sai do cinema correndo e ele atrás de mim. Entrei no carro com minha irmã e fomos embora, sem falar com ele.

Eu lecionava em uma cidade próxima e duas vezes por semana, ele ia me buscar, na reitoria, onde o ônibus parava. Eu via que ele estava me esperando, sempre antes de ele me ver. Desde o dia do incidente do cinema, eu não havia falado mais com ele. Pensei que ele não teria coragem de me procurar. Desci do ônibus e lá estava ele. Fingi que não o tinha visto e ele dirigia o carro, bem devagar, me acompanhando. Ele me chamava de miss Dé, um apelido carinhoso pelo qual sempre me chamava. Ele me seguiu até em casa e me dizia: miss Dé, nós precisamos conversar. Entra no carro, quero falar contigo. Eu fingia que não ouvia, tão furiosa estava. Cheguei em casa e a primeira coisa que fiz, foi escrever uma carta para ele, dizendo que não queria mais nada com ele. Usei uma expressão bem pejorativa para dizer o que eu pensava dele. O chamei de Rato de Esgoto. Quando ele leu aquilo, percebeu que a situação não era boa para o lado dele. Então pediu ajuda para a mãe dele e foi com ela até a minha casa. Ele sabia que eu não ia deixar de abrir a porta, se a mãe dele estivesse junto. Eu os recebi e ele chorou muito. Disse que ele não era um rato de esgoto e a mãe dele me pediu que o perdoasse. Com um pedido daqueles (a mãe dele era gordinha e baixinha), eu não podia dizer que não perdoava. Namoramos mais algum tempo e depois,terminamos.

Encontrei o meu futuro marido em uma festa de aniversário. Casei, tive dois filhos, me divorciei e voltei a morar na mesma casa que era dos meus pais. A primeira pessoa que procurei,foi ele. Continuamos sendo grandes amigos, mas nunca mais namoramos. Ele jamais se casou, mas se tornou o meu melhor amigo. Eu mudei de cidade, fui morar em outro estado e nunca mais o vi. Quando estive em minha cidade há pouco tempo, não tive tempo de procurá-lo, mas soube por uma amiga que ele havia falecido. Foi uma grande perda, porque apesar de tudo, fomos grandes amigos.

 

Débora Benvenuti

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