O Segredo da Essência

 

O Segredo da Essência

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~~O segredo da essência

Preciso de ser exatamente como sou. Para saborear toda a essência da vida e sentir a liberdade em cada passo que dou nem por um segundo poderei ser diferente daquilo que sou. Quando folheio as páginas da minha vida só encontro a verdadeira felicidade a partir daquele momento em que sou verdadeiramente eu. Tal não significa que tudo o que está para trás esteja mascarado pelo engano ou pela mentira. Longe disso. Para trás ficou um caminho sem chão, um céu sem estrelas, um vazio sem calor. Para trás ficou aquilo que constantemente impedia a expressão da minha existência. E viver sem existir é como um livro cheio de folhas em branco. Mas então a vida colocou um chão no meu caminho e nele me deixou a liberdade de caminhar por onde quisesse. Embora tivesse escolhido o mais árduo percurso, só a partir desse momento comecei a sentir. A dormência desvaneceu. Comecei a existir. Comecei a caminhar pelo duro percurso que é a vida mas desta vez com sentimento, com vontade própria, com imaginação, com garra, com a liberdade para sonhar o mais inexequível dos sonhos. Tal não significa uma vida fácil ou confortável, mas sim uma vida pronta para preencher com a verdadeira essência das minhas atitudes, das minhas escolhas. Começou a surgir o verdadeiro eu. E nele fui descobrindo e amando cada qualidade e cada defeito. E entendi que se gostasse de mim tal como sou não precisava de viver com o medo de ser eu. E viver sem esse medo é meio caminho andado para começar a viver feliz. Claro que não me orgulho dos meus defeitos, mas o facto de sentir que cada pedaço meu é genuíno faz-me querer ser melhor para mim, para os outros, para a vida. Surgem mais fortes os meus valores e princípios que, muito embora incutidos durante a educação na minha infância, estão mais firmemente ligados à minha verdadeira personalidade. Segurei a caneta que a vida me deu e fui escrevendo cada página do meu livro em branco. E em cada palavra surge um sentimento que descreve na perfeição todas as lutas, as tristezas, as alegrias, os desafios, as frustrações, as vitórias, os amores,… Então passaram-se uns bons anos e quando olho para este livro cheio de vida fico feliz por ser cada palavra. Porque fiz as minhas escolhas e delas tirei todo o proveito. Nem sempre foi fácil, nem sempre acertei, mas fui eu que tive a liberdade para decidir. No entanto, ninguém é dono da sua vida. Ninguém sabe o que ela nos reserva. Da vida eu não sei nada. Deste livro eu não sei quantas páginas ainda estão por preencher, nem tão pouco se serão perfumadas ou enrugadas e difíceis de escrever. Da vida eu não sei nada mas de mim sei o suficiente. Com o passar dos anos fui-me conhecendo cada vez melhor e vou-me descobrindo cada vez mais a cada desafio que a vida me coloca à frente. Preciso de ser eu própria em todos os obstáculos e para todas as pessoas durante toda a vida. Só assim consigo contornar cada pedra no meu caminho, só assim consigo caminhar acompanhada. Só assim é que ninguém poderá julgar as nossas escolhas. Porque o que nos motiva está dentro de nós. A felicidade começa aqui. Nesta capacidade de sermos verdadeiros com nós próprios, de não tentarmos nem por um segundo ser outra coisa diferente. Olhar num espelho e sorrir com a imagem que vemos na realidade e não com a imagem que idealizamos. A felicidade está dentro de nós, está em ter a capacidade de fazer as escolhas por aquilo que somos e não por aquilo que os outros querem que sejamos. Se somos ou escolhemos em função do pensamento dos outros então a nossa vida é um livro com páginas em branco. É um caminho sem chão, um céu sem estrelas, um vazio sem calor. Doloroso é não reconhecermo-nos nas nossas atitudes. Não podemos controlar a vida mas podemos não deixar que ela nos controle. Se queremos ser felizes temos que nos saber reconhecer primeiro. Depois aprender a gostar do que vemos em nós. E só quando realmente gostamos de nós é que surge a verdadeira vontade de sermos melhores, de querermos ser exatamente como somos. Porque é aqui que se sente o verdadeiro sabor da felicidade. Até que sentimos a necessidade de sermos exatamente como somos para viver uma vida cheia, uma vida feliz, uma vida completa. É neste momento que ganhamos a vida e que não deixamos que ela nos controle. É aqui que ganhamos a resistência para enfrentar todas as adversidades.
Conhecermo-nos a nós próprios não é um ato único. É um desafio para toda a vida. No dia em que paramos de o fazer voltamos a ter páginas em branco. Todos os desafios mudam um bocadinho de nós todos os dias. Se nos perdermos da nossa verdadeira essência voltamos a ficar irreconhecíveis e voltamos a perder o sabor da felicidade.

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