O Xerife

 

O Xerife

Português

A CONFUSÃO

 

 

Por todo o Portugal, é costume, haver um santo que protege o povoado e seus habitantes e em determinado dia do ano, por vezes uma semana, era levada a cabo, uma festa, que era denominada de romaria. Naquela santa terra em tudo era igual ao território nacional. As festas de Santa Madalena eram comemoradas durante toda uma semana. Não havia Clube Recreativo, salão de festas ou simplesmente um barracão, onde em circunstâncias normais, era usado para a debulha do milho, que não fosse enfeitado com as cores da sua padroeira e não houvesse o tradicional baile. Todos os Lugares, pertencentes à Freguesia, estavam engalanados para a festa, onde havia com freqüência, para além do tradicional garrafão de vinho, eram servidos, castanhas, pinhões e doces tradicionais. Num desses clubes, ajuntavam-se muita gente para a “brincadeira”. Como de costume, sempre que se amontoava demasiada gente, acontecia alguma confusão! Na altura, um rapazote, duma aldeia vizinha, prestou-se a namoriscar uma moça daquela região. Os pais dela e seus irmãos, com alguns outros parentes e amigos, cercaram-no para ajustar “os coletes”. Só que o rapazote não estava sozinho! Tinha muitos jovens com ele que, se prestaram a defendê-lo! Aí começou o sarilho e até se puxaram por armas, de verdade. Entretanto, alguém, acredita-se, o Presidente do Clube, chamando alguns auxiliares, murmurou-lhes com aflição.

Chamem o João Ganchas, depressa!

 

 

 

 

 

 

 

 

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Estava o João Ganchas, numa roda de amigos, chapéu puxado para a nuca e com um cigarro entre os lábios, quando num repente apareceu alguém, esbaforido da corrida e gritando a bom gritar:

Ó Sr João, Sr João! Venha depressa ao clube que se está a armar uma confusão dos diabos. Até já se puxou de armas e tudo!

Então o visado, levantando-se, endireitou o chapéu, ajustou o revólver à cintura e murmurou com a sua voz arrastada:

— Diachos, já nem se pode beber um copo sossegado sem se ser chamado! Bem vamos lá então! Tu vens Isidro?

Isidro era cunhado do João e também um homenzarrão de encher uma porta que, apressadamente anuiu!:

-Claro que vou, cunhado, é pra já!

E arrumando o cajado, um pau que era uma arma letal na mão de que o soubesse manejar, encheu o peito de ar e pôs-se a caminho atrás do João Ganchas.

E lá foram os dois, estrada fora, em demanda da tal confusão, acompanhados pelo sujeito que os fora chamar.

 

 

 

 

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Quando chegaram ao clube, a confusão era tanta que já ninguém se entendia. Havia empurrões, chapadas e socos e também pontapés. A confusão era tanta que já ninguém sabia quem era quem! Então ouviu-se um berro de desafio abafando todo o barulho da sala:

Eh! Cunhado, toma conta desses das armas e deixa os outros comigo!

E, num salto, o Isidro, gigante de boa costela, homenzarrão que enchia uma porta, lançou-se no meio do povaréu, esgrimindo o cajado a torto e a direito, paulada aqui, paulada além foi quebrando umas cabeças, já envinagradas por uns bons canecos bem bebidos! A calma, à custa de tamanhas cacetadas, foi-se harmonizando. Mal chegara ao Clube, o João foi levado para um canto, pelo Sr Miguel Estino, abreviação popular de Justino, que em poucos minutos o pôs ao corrente da situação e onde se encontravam os arruaceiros, isto é, onde estava o pessoal armado. Então o João, franzindo o cenho disse suavemente:

Vocês, aí, os das armas, façam o favor de as por no chão junto a mim, que quero vê-las todas, a bom ver!

Enquanto isso, apontava-lhes o seu inseparável revólver!

E não façam nenhuma asneira de que venham a arrepender-se, ouviram bem?

O pessoal, conhecendo a fúria de um, que se encontrava de pau bem ao alto, numa atitude ameaçadora, e o despudor do outro, que pouco se importava em meter uma bala em alguém menos prevenido, aquietaram-se rapidamente! Uns entregaram as armas de fogo e os outros saíram bem depressa pela porta grande.

O tumulto, assim como, começou, logo acabou e a festa, digo, o bailarico recomeçou!

 

 

Ezequiel Francisco

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Comentários

mini-conto

Trata-se de uma aventura verdadeira e os nomes mancionados assim como o assunto decorrente são verdadeiros! Apenas foram ligeiramente romanceados pelo autor, ele próprio filho do Ganchas e que ao contar esta historia quis homenagear lseu progenitor! 

A veracidade deste acontecimento pode ser testemunhado, pois o mesmo foi-me contado por pessoas vivas na época!

Pena o autor não ter engenho e arte suficiente para dramatizar o continho! Se não...

miniconto

Tanto a história quanto as personagens, são verdadeiras. Foram colhidas na fonte, junto aos anciões, pelo filho do Ganchas, o que escreve esta historia, já que "o Xerife" era uma lenda viva na região.

Pena é,, que o engenho e arte, falte ao autor para dramatizar a aventura  aqui referida!

A autenticidade da mesma pode ser testemunhada pelos velhos, se aida houver algum desse tempo ou alguém a quem passaram o acontecimento!

Ezequiel Francisco

A verdade dos factos!

Por serem verdadeiros, aqui faço o meu testemunho que, poder ser encontrado junto do pessoal da aldeia!

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