Perdemos a liberdade

 

Perdemos a liberdade

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Às vezes a vida parecia difícil. A agitação dos dias impedia a calma e o sossego. Custava a respirar e nem sabíamos o que tirava verdadeiramente o ar dos pulmões. Não tínhamos tempo e agora é tudo o que nos resta. Fomos obrigados a viver devagar. A manter a pressa de lado e a deixarmos para depois o que nos apressa. Fomos obrigados a ter paciência para esperar pelo que não sabemos que pode vir. A ter coragem para dar mais sentido aos dias. Fomos obrigados a ter tempo e não nos deixam fazer muito com ele. Ficamos sem liberdade de nada quando antes tínhamos tudo.

Quando antes se enchiam as ruas com a rapidez das nossas rotinas. Quando nos sentávamos na última cadeira disponível da esplanada onde batia o sol. Quando chegava o fim-de-semana e se ouvia o fado pelas paisagens que percorríamos. Quando não estimávamos a beleza de uma cidade que sempre soube ser a nossa casa. Quando tínhamos tudo e não sabíamos dar valor a nada.

Antes tínhamos tudo e não havia tempo para mais. Agora não temos nada e há tempo para tudo. E a vida simplifica. O que tanto nos fez queixar. E agora quem complica somos nós. E voltamos a torcer o nariz. E o coração volta a ficar apertado. Porque foi obrigado a adiar um amor. Mas por amor nós adiamos.  Por amor nós aceitamos estar longe dos que não conseguimos viver sem ter por perto. Por amor silenciamos os gritos dentro de quatro paredes. Por amor aguentamos estar separados. Mas por amor não aguentamos muito tempo viver assim. E é difícil. Pedir a um coração que espere. Por algo. Por alguém. Para que fique tudo bem. É muito difícil. Mas por amor, afinal, a gente aguenta o tempo que for preciso.

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