Um Pouco de Café

 

Um Pouco de Café

Português

Eu havia perdido o último ônibus para minha cidade, estava muito frio e, para variar, era uma São Paulo noturna e chuvosa. Eu teria que esperar algumas horas até amanhecer, já não havia bateria em meu celular e muito menos dinheiro para pegar um táxi e procurar um hotel. Se ao menos eu tivesse com quem conversar, aquela espera seria menos torturante. Restou a mim caminhar por entre os corredores e observar aquele mundo que chegava a ser magnífico. Muitos não notam o quanto é incrível aquele misto de cultura e vidas. Na rodoviária todas aquelas pessoas pareciam esperar que algo bom acontecesse, como se aquele próximo ônibus as salvassem da completa loucura e fosse mais uma chance de mudar suas vidas. Resolvi parar numa cafeteria; o cheiro de café, ainda mais em dias chuvosos, é um convite irrecusável para mim. Fiz meu pedido, recebi e sentei-me numa das mesas dispostas em meio aquele mar de gente, aproveitei para dar uma rápida lida em um dos livros que havia trazido junto à mim. Mas tudo aquilo à minha volta era interessante demais para ser ignorado. Notei que havia um garoto asiático sentado sozinho em uma das pilastras se perdendo no celular, um estrangeiro ao meu lado em um animado papo sobre coisas que fogem do meu entender, um idoso se entretendo com passatempos no jornal e um casal rindo por se enroscarem com as malas; aos poucos notei que também havia um alguém deslocado, eu, buscando ocupar a cabeça com uma obra de romance e se afogando em um copo de café com leite. Pode parecer loucura, mas eu achava tudo aquilo realmente lindo. Cada um indo ao seu destino com um “porque” diferente, com uma vida diferente. Eu fazia parte daquilo, com minha bagagem e história. E todos nós nos completávamos de alguma forma. Cada um conhecia uma dor e uma alegria diferente. Aquele próximo ônibus era um livro e cada passageiro era um capítulo de uma história que todos sabem o fim.

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