Vôo em Papel de Fumar

 

Vôo em Papel de Fumar

Português

Fumo um charro num terraço perto do céu.
Observo o fumo que expiro a perder-se sobre a cidade velha, a minha cidade.
Uma cidade que respira lentamente, uma cidade carregada de histórias sem nome. Ao lusco fusco aprecio um céu que lembra o inferno e travo prolongadamente o fumo demais uma passa.

Um mar de telhados desordenados reflectem a alma de uma cidade em espera.
Uma cidade que se prepara para receber os segredos de noctívagos sem rosto e sem destino. Mantém desperta a falsa sonolência, no entanto preserva acesa a chama do acaso. Na incerteza indica-nos o caminho para quem se quer perder, acabando nós onde espera o nosso reflexo.   

Apanho boleia do fumo que expiro e sobrevoou a cidade sentado num avião de papel.Rasgo o inferno em direcção ao purgatório e contorno o paraíso. Um paraíso ocultado por vielas, que reside em becos de prazer onde o cheiro a sémen e de perfume barato é limpo sem sucesso com o cuspo de quem desaprova. Pecadores de consciência limpa mas que transportam almas pesadas.

Sentado num avião de papel acabo o charro de combustão lenta.
Junto ao céu observo e sinto o pulsar da cidade. Procuro a minha história e os segredos que esqueci. É noite, começa chover. Junto-me aos destroços de papel que caem lentamente sobre a cidade. Embalado visito o paraíso, sou julgado no purgatório e desço ao inferno. Estou Feliz.

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