Sofia Moraes

Para mim, fotografar a natureza faz parte do trabalho de expansão da consciência em que me desenvolvo como ser humano.
Sendo o meu estilo preferido, é com um enorme prazer que o faço, e rendo-me a ele muito além da componente estética existente, com a qual me identifico e que também valorizo. E da qual não desisto, mesmo com material técnico limitado.

Mesmo sem uma máquina fotográfica, consigo-me ligar ao nosso planeta de uma forma pessoal, criativa, à minha maneira. Sinto que a Terra se está a mostrar, de uma forma livre e diferente, por vezes divertida e irreverente.
Com o testemunho da imagem que capto,há uma partilha especial comigo mesma e com os outros da beleza que vivi, senti e quis trazer cmg, mesmo conhecendo a efemeridade de registos materiais.

Há emoções que são experienciadas, e que podem ser mínimamente traduzidas através da imagem que tento fixar, mesmo que não seja de uma maneira evidente, que não é.
Mas para mim funciona, para mim tem um grande significado.
Eu estou ali a ir buscar um detalhe, a escolher um enquadramento, a sentir um movimento que registo como o estou a sentir.
Nas fotografias arrastadas a sensação é de dar continuidade àquele instante, como se ele pudesse continuar a ser percorrido até ser o tempo de ter esclarecido quem tenta perceber o que aconteceu ali.

Há um forte envolvimento com as energias do lugar. Tenho a sensação de viver o momento presente de um forma única.
Não estando a construir nada, estou a viver o que já está construído naturalmente.
Não estando a imortalizar nada, estou a sentir.
Não havendo uma procura, há um encontro entre mim e o lugar.
Não havendo formas materiais aos quais me apegue, há sempre o deslumbre da observação do espectáculo oferecido pela natureza, da sua magia e perfeição,e a ternura de a sentir comigo, na memória das emoções sentidas.

Não é que seja exactamente igual ao que ali está, por haver a minha parte envolvida, que é ficar com aquele bocadinho,que recebo como um presente.
Há um processo inconsciente na escolha de um detalhe que me vem parar aos olhos, que absorvo de forma instantânea, e vou traduzindo como sei.
Não sinto estar a congelar fracções de tempo, mas sim a descongelar, a alargar e expandir emocionalmente o que vejo sem máscaras ou montagens.
E a desconstruir o espaço e o tempo através de um clique.

É um grito de força e energia brutal
É também um momento de paz, de tranquilidade.
Há uma interacção muito grande entre mim e o lugar.
Há fotografias onde percebo haver um enorme som que olhado em silêncio ou com outros sons, pode ser interpretado, nunca adulterado