O silencio é uma arte

 

O silencio é uma arte

Portuguese

O silêncio é uma arte. É no silêncio que se escuta.

 Quando as sombras caiem… os sonetos que refazem a alma são escutados.

 Nesta penumbra atraente… Que me acorda! E mesmo jacente, me ergo, neste tumulto vicioso.

 Que impaciência para a matéria! Quando o corpo se ondula, e as mãos não tocam; que corpo esse! Apenas serve para o amanhecer. E no amanhecer, solicito o exílio – o padecimento; esse estado de alma eloquente: para ser terapêutico para os olhos, para se tornar a nascente de sonetos disformes…

Se sou cativo do sono, devo inculpar o amanhecer? Não. Devo gratificar o amanhecer: é o pilar do sono, apesar de não ser o amparo da alma:

O amparo é o sono.

 Como a frequência é o amor! E no sono estão lá todos… murchos ou viventes, e todos platónicos. Como os ouço!

Como a ouço!

Esta febre atroz! Para desadormecer!

RemontaRemonta claridade

É no sono, que resolvo o infortúnio – é no sono que repouso – não pretendo despertar.

E no sono, as árvores sobressaem, os mares se apaziguam e a vida se cumpre. A vida não me acorda durante o sono. Eu sou o proprietário dela. Eu sou deferido. Eu mitigo.

E percebo.

Deduzo como viver: como tudo é tórrido ao simples toque; como a brisa é imprevisível, e naturalmente, o Deus singular, não quer que a prevamos. Será adequado, quando tudo é fabricado? E a deserção da calamidade? E estugo. Como estugo! Nestes passos calculados, e ninguém me olha… todos aplaudem. Cresço com as montanhas, e esta brilhantina tão lúcida e quente – não é transparente, como no amanhecer. Pois no amanhecer, todos falam durante o sono…

Eu não.

 Falar é burlesco. No sono se ortografa, e no sono se despeja a alma no papel. Por essa razão, durmo com a caneta na mão. E já ali, posso fingir e não reproduzir. Tal como a natureza.

 Onde me perco e – ao mesmo tempo – cuido de mim.

Não fale… Não fale! Assim acordo – assim, é tudo banal, indefinido, reles, sem aroma, sem gosto, sem comicidade e quasi sem sentido… não agoranão fale: estou a ascender. Estou a concernir os céus. Estou a sentir a virtude do pecado!

Isso apenas sobrevém na morte…

 Serei sui generis? Tenho todo o tempo do mundo para debelar a doença da minha consciência! E coloco regras que irei cumprir. E no sono, junto com a poesia, acalmo o explosivo prestes a explodir no amanhecer. A poesia! A poesia de todas as cores, de todos os mundos, da inventividade – está lá! Será a poesia um sonho? Se não me diz…

Qual deles é lhano?

Talvez no sono tenha a gnose: o amanhecer é uma orgia descomunal, e me torno desmazelado. Os pensamentos são estáticos, como se a alma estivesse encarcerada.

Prefiro o sono.

Prefiro o cheiro a terra molhada em conjunção com um inverno ameno. Prefiro ser criança e procurar a vida, de memorias não melindras, de sonhos quase possíveis – tudo é novo! As conversas nada supérfluas ou mal sentidas, os pecados são ouvidos e as pessoas! As pessoas que tenciono que sejam! Como vou pintando todas estas formas astrais! Contentes ou descontentes (já que prefiro a tristeza), como elas me conhecem! Como postulam ajuda! E não estou atento ao ritmo ou entoação da vida, mas sim, ao conteúdo da mesma: os pensamentos se accionam, como se de uma pintura expressionista se tratasse – e a clareza da introspecção, é motivada pelo acresço do sangue nas veias. O pulsar! Deste tempo simulado! Onde não perco oportunidades – eu mesmo sou a oportunidade, virando a pagina, tal mudança no sono:

 Sou eu. Quero ser eu. Vou querer ser eu.

 No amanhecer, todos me alcançam e – em harmonia – me posicionam de joelhos. E sucumbo, onde o porvir não é melhor que o dia corrente – extrovertido em vez de introvertido! Que descortesia! Que indelicadeza! Apenas o introvertido tem sono… e apenas com isso, o porvir é melhor que o dia corrente. Apenas com o espírito longe da matéria.

 E o sono torna-se este comboio desabitado onde me sento – esta ansiedade! De abalroar no fabrico humano…

Sou desconforme. Quero ser desconforme. Vou querer ser desconforme. Mas estou no sono…

E querem que acorde!

Ouço clamor. Acriminam o sono… então acriminem a arte… Que clarão: não quero alvorecer… por favor…Qual plano justapõe o outro? Não sei em qual estou…

 Apenas sei que não quero alvorecer…

E amanheceu… e nasceu o dia

Sono…

Quando voltas?

 

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