Mãe

 

Mãe

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A minha mãe.
Quem me conhece, sabe que não vivo com a minha mãe há bastantes anos, e quem nos conhece sabe, também, que eu e a minha mãe temos feitios diametralmente opostos, e que tantas vezes colidem um com o outro.
Mas esta mulher de quem escrevo, a mais bela entre as mulheres, é a minha mãe. E esta é a minha tentativa de homenagear a mulher que me faz falta, todos os dias. Mesmo quando presente.
Não é o teu aniversário, não é o dia da mãe. Mas sinto a tua falta, cada vez mais, em proporção da minha idade. Faz sentido?
Saberás tu a falta que me fazes?
Sinto a tua falta naqueles dias em que nem sei que sinto, mas em que a ansiedade apresenta-se ao serviço sem razão aparente.
Sinto a tua falta quando me aproximo demais da realidade.
Sinto a falta de quando irrompia pelo teu quarto a meio da noite e pedia-te para vires deitar-te à minha beira.
Sinto falta de ter medo da morte porque aí, nessa altura, tu dizias-me que estava tudo bem, tudo tudo bem, porque, no fim, seríamos todos estrelinhas lá no céu.
Gostava mesmo de desaprender a ler, para que viesses ensinar-me novamente.
Eu tenho medo de muita coisa agora, ainda. Talvez mais agora do que em criança. E queria poder contar-te todos os meus medos. Este texto é um prolongamento desses medos. Medo do vazio que eu mesma sinto quando preciso tanto de ti e tu estás um bocadinho longe.

Há momentos em que a dúvida assola a minha mente, como a qualquer rapariga da minha idade: questiono-me se terei ou não essa fibra, esse sentido tão grande de sacrifício que uma mãe tem ("ser-se mãe é o sacrifício por excelência", Milan Kundera).
Desconfio que ainda tenho um longo caminho a percorrer até descobrir as respostas.
Até lá, estou a aprender que uma mãe não é, de todo, o ser perfeito que se crê ser, que se crê que deve ser.
Pelo contrário, ser mãe é sofrimento. É ir até ao nosso próprio extremo, ao limite (ou talvez mais além) do sofrimento humano.
Mas voltar.
Experienciar a dor que tentam sempre romantizar, mas que não deixa, por isso, de doer insensata e ingratamente.
Então, é sobreviver, sobreviver sempre, às vezes sem se perceber como, mas sobreviver porque alguém conta que 'mãe' seja sinónimo de invencibilidade.
Alguém conta arduamente com essa vida; alguém está à espera, continuadamente, eternamente, que a mãe tenha a força não só por ela, mas por mais um, dois, três seres além dela.
E a mãe é isso tudo, sem nada reinvindicar. A mãe é todas essas lágrimas que também têm o direito de o serem. A mãe é revolta, fúria, lágrimas. Mas sem nada reinvindicar. A não ser, no fim, pedir-te que sejas feliz.

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