À descoberta

 

À descoberta

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À descoberta

Em pontas dos pés me ergo
Para ver o que há do outro lado do muro.
O cão da vizinha ou uma erva daninha
Teimam em saltar a parede,
Teimam em lançarem-se no escuro
Que é a barreira do desconhecido,
O desconforto do futuro.
Em pontas dos pés molho-me à chuva...
Para mais alto sorver as gotas de água
Que carregadas de mundo se soltam na terra
E perdem-se na minha garganta.
Com os pés em pontas, ainda que sem ser bailarina,
Me balanceio de olhos fechados sentindo o frenético tom
De uma natureza rainha,
De uma correria imensa externa a mim,
De um silêncio presente entregue a mim do princípio ao fim.

Eu também vivo em pontas dos pés
Mesmo quando durmo,
Quando como,
Quando no mar me perco de olhos fixos no céu.
Porque eu, eu vivo
Para ver o lado de lá.
E descobrir a magia dos que acreditam serem mágicos
Sem varinha ou chapéu alto
Mas com um brilho nos olhos
E uma infinita forma de ser.
 

Cátia Fernandes

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