É de carne que se faz o poema

 

É de carne que se faz o poema

Português

É desta vontade de ser dia, que se levanta a noite escura,

Que se levanta devagar, muito devagar, devagarinho…

E a luz que ia amanhecer devagar, muito devagar, devagarinho,

Perdeu-se ela pelo caminho numa rua amargurada,

Numa lua acabada… e perdeu-se…perdeu-se sabendo ainda de nada.

É de carne que se faz o poema, rápido, muito rápido, repentino!

Carne jazida na noite perdida, na noite que é noite ainda na luz,

E a carne jazida se ergue vivida,

Porque é na carne que mora, mas é na alma que impera,

E nasce e cresce e ordena e comanda!

É de carne que é feito, mas na alma matéria.

E fica lá, sempre incompleto e acabado, simples e trabalhado, louco e regulado,

Sendo muito menos uma carne que o sinta,

Que uma alma que o explique!

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