Nada

Nas pedras molhadas da calçada

Viste a vida passar e não fizeste nada

Não escorregaste, não tombaste, não caiste, não levantaste

Nada.

Não andaste descalço nas ruas frias e molhadas

Nem partiste nem ficaste

Uma pedra mais, encaixada à martelada

Um candeeiro. Uma luz invisível, acesa ou apagada

Uma pedra mais.

Qual a diferença? Nenhuma. Nada.

Nada que as ruas estão cheias

as cheias encheram as ruas de água

E se não queres nadar, não te deixes ficar

Há mais para ver do que as pedras da calçada

Deixa que a chuva escolha a tua estrada

Vai com a corrente.

Aqui não há mais nada.

Oliveira de Carvalho, 2013