Hoje suicidei-me desse ontem.

 

Hoje suicidei-me desse ontem.

Português

Ontem à noite suicidei-me, cortei as veias,
senti o meu corpo deslizar pela parede do quarto onde me havia encostado,
prostrei-me ali sentado no chão, enquanto um mar vermelho sujava-me a roupa,
assisti sozinho a minha coragem, vi o meu corpo a deixar-se levar,
Na parede que era branca, os salpicos de sangue pintaram-lhe o meu rosto,
esvaí-me de toda aquela chuva interna, daquele deserto abandonado,
Suicidei-me da vida, estava farto de tudo,
da miséria que se desenhava, dos revoltados do quotidiano,
dos estranhos conformismos, da sociedade e das incumpridas promessas,
já não suportava a ideia de os ouvir de novo, no mesmo que se repetem…
fugi deste mundo, esgueirei-me sem nada dizer e para quê dizer?!
Tentariam convencer-me do contrário! Que era eu o errado!
Suicidei-me de todas as formas que pensei e não me chamem de covarde!
É preciso muita coragem para querer morrer, é o limite da nossa vontade,
é o medo de muitos porque é pecado, querem viver, porquê pecado?!
Senti-me o herói de mim mesmo,
ver que ninguém se importava ,consolou-me a alma,
Tentei essa janela aberta da esperança, essa falsa utopia onde nos escondemos,
corri desses amores perdidos, dessas metades que não se completam, desse tempo para mais tarde recordar,
Libertei-me desse sofrer, de quando dizem que o amor magoa, que o amor faz doer…
Atirei-me de braços bem abertos para o abismo da luz do meu despertar.
Sonhei com a morte, suicidei-me, mas, não morri,
Hoje suicido-me desse ontem, apaguei-o da memória.

Autor: Walter Aguiam.

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