O meu avô materno

 

O meu avô materno

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O meu avô materno ...... (Almada)

Tenho umas recordações do meu avô, de o ver sentado à porta da casa de campo onde vivia, numa cadeirinha de madeira e uma mesa pequena igualmente de madeira. Lembro-me de ouvir dizer que ele tinha morrido mas eu não tinha noção de morte e fiquei feliz porque para os meus pais irem para Silves ao funeral, eu e a minha irmã ficámos com uma amiga da minha mãe que fazia tudo o que queriamos. Lembro-me ainda que naquele tempo até as crianças faziam luto com roupa escura. Para nós, a minha mãe fez uns vestidos brancos com pintinhas pretas e uma espécie de bibes com peitilho, folhos nas alças e com uma saia rodada. Esses peitilhos eram debruados a preto com um galão muito fininho igual a um galão vermelho que debruavam as calças que eu e a minha irmã tinhamos e eram por baixo do joelho âs quais chamavam calças à pirata! (risos)
 Não me lembro mais nada. Contou-me a minha mãe mais tarde que o meu avô era muito religioso, não deixava ninguém começar a comer uma refeição sem antes rezar..... não me lembro disso. Contou também que o meu avô andou a distribuír pelos pobres bastante dinheiro antes de se matar, pois morreu enforcado. Soubemos mais tarde que ele também doou muitas terras situadas entre Messines, Alcantarilha, Poço Barreto, Pêra e Armação de Pêra, deixando apenas para cada filho o espaço suficiente para fazerem uma casa e pouco mais. Parece que deu o dinheiro todo aos pobres, no dia em que se enforcou de tal maneira que depois se lembrou que tinha prometido azeite para colocarem na igreja nas lamparinas. Foi à mercearia, comprou o azeite, uma corda, ficou a dever pois já não tinha com o que pagar e foi à igreja pagar a promessa. Depois, atou a corda a uma árvore e enforcou-se deixando a minha avó com 7 filhos dos quais só dois ou três eram casados.
 Religioso como era, amigo dos pobres como era, ninguém conseguiu que um padre lhe fizesse o funeral porque se suicidou......

 

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