Perífrase Quase Mitológica

 

Perífrase Quase Mitológica

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Olho-te e és como um oceano.

Emanas mistério nesse teu odor salino que me faz arder as chagas anteriormente abertas pelo teu abraço que me arranhou com os grãos de areia do passado que arrastas contigo. O teu toque é frio contra a minha pele terrosa aquecida ao sol e noto quão contrastados somos.

A tua força assusta; não precisas de uma noite de grandes ventanias que gritam desespero e promessas quebradas para que as tuas ondas se revoltem e rebentem em mim. A mais leve onda, o mais leve sopro marítimo conseguiriam derrubar-me sem hesitação e arrastarão consigo parte de mim. Sou vulnerável perante o Poseidon que transpiras a cada revolta das ondas.

Meu mar, ambos sabemos o que nos destina. Eu não sou uma sereia que possas alegrar nos teu braços de espuma e beijos molhados e tu nunca poderás ser a planta que criará em mim infinitas e eternas raízes.
Não nos enrolemos mais em ondas desnecessárias; sinto-me erodida.
O ir-e-voltar dos teus mantos azuis de água cristalina e espuma são uma perífrase que me prende. Di-lo, di-lo de uma vez, não enrolemos mais as palavras num pequeno furacão de sal e areia, não digamos o desnecessário. Chega de grandes conversas ao luar em que tanto se diz mas não se diz nada. Sejamos objectivos, claros como a tua água.

É isso, amor. Contrastamos em demasia, somos duas forças da Natureza que chocam, amam e lutam como titãs e que, por isso, não estão destinadas ao encontro eterno.
Porque há sempre uma maré baixa nesse teu eu que é o oceano.
E tu tens de encontrar a tua Anfitrite.

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