Refugiado da guerra

 

Refugiado da guerra

Português
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“Refugiados da guerra”
…Há muitos, muitos anos, era eu uma criança, tive de fugir da minha terra…
Para trás ficou a minha tenra infância, a família, os amigos e tudo quanto os meus pais tinham.
Foi no ano de 1976,quando levantou voo o Boeing 707,que conosco rumou para Portugal. Na bagagem vieram às lágrimas, a tristeza, o sofrimento, a dor e um silêncio mudo.
Eramos fugidos da guerra pela independência de Angola. Refugiados por assim dizer.
Para trás ficaram os sonhos, tal como acontece com todos os que passam por uma guerra, por tempestades, furações ou vulcões e tudo perdem.
Chegamos com a mão num bolso roto, sem nada, à mercê do que nos esperava…
Recordo-me de quase tudo, sobretudo da minha bela infância, da minha escola, dos meus animais, dos vizinhos e dos filhos deles com quem brinquei e fiz amizades. Recordo com muita saudade de tantas coisas bonitas, saudades da vida boa que levávamos. Não nos faltava nada.
Aquela infância foi o meu conto de fadas, por isso de tudo me recordo.
Lembro-me de ver os meus pais chorarem e eu nem percebia porquê! Para mim, estar naquele avião, era mais uma aventura e só mais tarde apercebi-me de que não…
Quando o avião aterrou no Aeroporto da Portela, já era noite cerrada. No departamento das chegadas, multidões de pessoas juntavam-se aguardando o seu destino. Uma autêntica confusão, adultos abraçam-se, crianças choravam, outras tremiam de frio e ninguém se entendia.
Depois de longa espera em infindáveis filas, chegou a nossa vez, um cobertor, um pacote com merenda. Ficamos a saber que o destino que nos esperava era Trás-os-Montes. Nunca havíamos ouvido falar de tal lugar.
Nas imensas filas de autocarros agrupados, íamos entrando, batíamos o dente, frio intenso. Serviram-nos os cobertores para aquecermos o corpo. Vínhamos de África, habituados ao calor. Éramos muitos e lá seguimos caminho. Horas e horas de viagem.
Chegamos então ao destino, ficamos alojados no Hotel Pensão do Parque nas Pedras salgadas. Lugar onde conhecemos o frio a fome e as geadas…
Foi muito difícil começar a adaptação, não havia dinheiro, nem empregos, estávamos pobres, felizmente vivos, tínhamos um abrigo.
E tantas coisas se passaram até hoje. Já lá vão trinta e nove anos e muito fica para contar…

Por: Walter Aguiam.

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