Namorado Virtual

 

Namorado Virtual

Portuguese

 

Sempre tive muita curiosidade em saber como seria namorar alguém virtualmente e mais tarde, conhece-lo pessoalmente. Encontrei muitos homens em sites de relacionamentos, conversei com alguns, mas a maioria deles moravam em outros países, o que dificultava o encontro. Um dia encontrei um peruano com quem conversei muitas vezes e nos víamos pela webcam. Ele era engenheiro civil e havia estudado alguns anos no Brasil, indo se formar em uma universidade peruana. Quando conversávamos, percebi que muitas vezes enquanto a webcam estava ligada, que ele teclava sempre com os olhos fixos na tela. Isso me intrigava, pois parecia que ele não estava olhando diretamente para mim. Ele me disse que gostaria muito de voltar ao Brasil e vir trabalhar aqui. Me enviou o currículo dele, me pedindo que o ajudasse a arranjar emprego. Depois de algumas semanas, ele me disse que viria me conhecer e já havia comprado a passagem. Quando estava para entrar no Brasil, foi detido porque não havia dado baixa no cartão do cidadão e precisava pagar uma multa de R$ 800,00. Ele não dispunha desse dinheiro e pediu que eu ligasse para a irmã dele e dissesse o que havia acontecido. A irmã não dispunha desse dinheiro no momento, então eu liguei para ele e disse que também não podia ajudar. Ele chorou muito ao telefone, porque disse que não tinha dinheiro para voltar para o país dele. Então eu fiz um empréstimo e enviei o dinheiro para ele. No outro dia, ele disse que estava tudo certo e que já havia comprado passagem para a minha cidade. Eu fiquei aguardando ele chegar e ele não deu mais notícias. Deixei uma mensagem para ele e ele respondeu que estava com pouco dinheiro e resolveu ficar uns dias no Rio de Janeiro, trabalhando em uma construção. Depois de um mês, ele me disse que ia ficar mais alguns dias em Curitiba e depois viria me conhecer. Ele veio, me pareceu uma pessoa bem interessante, tinha uma boa conversa. Resolvi apresentá-lo para o meu irmão em um restaurante ao lado do edifício onde eu morava. Antes de irmos ao jantar, fomos ao mercado e ele comprou uma garrafa de vodka. Fez  várias caipirinhas e até o final da tarde, havia bebido todo o litro de vodka e disse que não poderia ir ao jantar, porque estava muito bêbado. Pediu desculpas e disse que faria um jantar típico da terra dele na casa do meu irmão. Cozinhou muito bem e agradou a todos. Sai para mostrar a cidade para ele e cada vez que ele via uma casa bonita ou um automóvel luxuoso, ele parava e pedia para que eu o fotografasse. Achei aquilo muito estranho e conversando com uma amiga, ela me disse que as atitudes dele eram muito estranhas. Percebi que ele era alcóolatra e muito educadamente, disse a ele para voltar para Curitiba que eu iria me encontrar com ele no outro final de semana. Ele fez a mala dele e eu o levei na rodoviária. Para ter certeza de que eu iria encontrar mesmo com ele, levou meu celular. Quando percebi, ele já havia ido embora. Alguns dias depois, uma mulher falou comigo pelo extinto messenger e me perguntou se eu estava namorando com ele. Eu disse que não. Então estourou a bomba: ela era namorada dele (ele tinha três) e ficava um tempo em casa de cada uma para ver qual das três teria melhores condições financeiras para ele casar. Então olhei novamente as fotos que ele postava em um site e percebi que todas aquelas casas que ele fotografava e os carros caros, ele dizia serem dele. Nunca mais vi meu celular nem o dinheiro que havia emprestado a ele. Ele havia selecionado as três mulheres que queria conhecer e falava com as três ao mesmo tempo, por isso não olhava diretamente para a webcam.

 

Débora Benvenuti

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