A infância

 

A infância

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A infância

            Um dia, nasce um bebé. Todos festejam o nascimento da criança e a esperança que esta representava. Seria a alegria dos que a amam, nisso não havia dúvidas.

A criança já chora, como se, adivinhasse as exigências que lhe vão impor. Os sonhos que não lhe iria pertencer, mas teria os próprios guardados.

O tempo passa, a criança já fala, anda, derruba os brinquedos. Sentada no chão risca a folha de um papel feliz, queria escrever e mesmo, sem saber desenhar as letras, escreveu. Ninguém mais sabia ler a sua escrita, todavia ela sabia o que tinha escrito. E, isso bastava.

Só faltava mesmo ir para a escola, aprender as letras dos adultos. Porque raios, as crianças tem de se adaptar aos adultos?´

Se ser adulto, é a coisa mais chata que pode existir. Devia de, haver uma lei qualquer, que impedisse de crescer. Se alguém ousasse crescer, levava uma multa severa.

Ou então, quem ousasse destruir o mundo mágico de uma criança, também seria multado sem dó.

É uma pena, os tribunais não tratarem desses casos. Uma grande burrice, perder tempo com isso?

– Pois é! – Falou o adulto.

Falou o que não sabe de nada, o que não sabe ou já esqueceu dos pequenos detalhes, que mudam o mundo. Só a criança sabe realmente viver e não há nada, que a impeça de viver. A sua única dor é um joelho arranhado, um choro de dor, mas isso passa, tem o poder de esquecer. Retorna, a brincar como antes destemida do perigo. O adulto, foge ao perigo, sabe-lhe todos os cantos e como fugir dele, então acomoda-se. Não permite aventuras. Ter consciência, chega a ser cruél.

A Carla, entra na primária e já manejava bem o lápis. Aprendeu a escrever e a ler em pouco tempo. Se era, para aprender, tiraria proveito disso. A professora, elogiava-a aos pais. E, eles ficam orgulhosos da sua menina. Não podia ser de outra maneira!

 Enquanto, ela só pensa em voltar para o seu mundo, para os livros que a fascinavam. Um refúgio, para fugir das obrigações e da principal obrigação «crescer».

Dois anos passam.

Ela imagina-se adulta como a mãe, a poder usar as roupas de adulta e os saltos altos. De vez em quando, calçava os sapatos da mãe e fingia ser adulta.

E, conseguia vestir bem esse papel, sem deixar de ser criança. O melhor de ser criança, é poder vestir vários personagens. O encanto estava nisso.

Um espelho, podia ser o espelho mágico que a transportava para outros mundos. Aprendeu com os livros, que estes também podiam ser um espelho transportável. E, sonhava.

Um dia cresceu. O tempo roubou-lhe a infância, mas podia sempre resgatá-la a sós. Remexer nas suas coisas de menina. Sentar- se no chão e ser a menina outra vez.

Numa sala de aula, a professora pergunta a cada aluno, o que pretendiam ser no futuro. Cada um, deu a sua resposta.

 – Eu quero ser professor de informática.

– Eu quero ser enfermeira.

 – Eu quero ser jogador de futebol.

– E, tu Carla?

– Eu quero ser criança outra vez.

 – Não entendes-te a pergunta.

– Nenhum, entendeu a minha resposta.

Ninguém entendeu.

– Quero ser criança! – Repeti.

Subi as escadas a correr e a rir e voltei a ser a mesma.

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