Florbela Renascida

 

Florbela Renascida

Portuguese

Florbela (Espanca) Renascida...

Minha alma
como és triste,
longa, branca e
infeliz!
Que jorro incessante
lanças, tal qual
louco chafariz
de areia movediça,
lamacenta, tão cheia
de Dor, d’Amargura,
corrosiva, explosiva,
cáustica morte lenta!...
Sorrio para não chorar
porque alívio mal
consigo!
Que Dor! Que Solidão
compulsiva! Tanta
vez que peço auxílio
e Tu, minha alma,
meu barco, tão perdido
a naufragar!...
Quantos remorsos eu
Tenho, por não te ter dado
o que tanto me pedias,
Minh’alma, agora,
Tão sufocada! Porque
esperei? Que queria eu?
Tudo e fiquei sem nada!...
O tempo, que a todos cura,
a Mim, vai-me estilhaçando:
Olha como voa a pena
pelo ar, levada de brando
ou em violento redemoinho,
Quebrando-se contra as vidraças,
Vendo a felicidade alheia – como
Ela, no fundo, tanto anseia!...

Maria José Fontes

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