CHUVINHANDO

 

CHUVINHANDO

Português

Não são tormentas nem tempestades

Não alagam nem afogam

São bátegas que vêm e vão

Umas vezes deixam outras não

O sol brilhar e aquecer

Molham e deixam rasto

É um momento continuado

Que ao longo do tempo discorre.

Nos campos sacia a sede,

Florescem as árvores crescem os rebentos

Abrem as rosas recolhem-se os pardais

Mesmo a destempo vem a tempo.

E na alma essa chuva miudinha

Não provoca descalabros nem desatinos

É um lágrima ou são mil que escorrem

São momentos que sem lamentos ocorrem

É a tristeza que vem sem saber

Vai e volta ao sabor do vento

É o estar só no Rossio cheio de gente

Até encontrar aquele velho amigo

Que de contentamento nos quedamos

Logo se esquece essa chuvinha molha tolos

Que tanto arrefece e nos tolda

Como se a luz do sol de repente

Por entre o cinzento das núvens e das lágrimas

Voltasse de novo a sorrir e apetecer cantar e pular.

Logo mais à despedida quando a noite chegar

Já com as flores a descoberto e o fruto encarnado

Não se recorda nem se vislumbra

Nem pingo de chuva ou dos olhos

A saia, o véu e o casaco secaram
Os olhos secaram e voltam a brilhar

De novo a terra fica pronta a trabalhar

E o coração ritmado a funcionar

Foi assim chuvinhando no tempo

Que deu afinal alimento e alento

Deu vida ao pasto seco e sedento

E alívio àquela rajada de alma triste.

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