Numa só palavra

 

Numa só palavra

Português

O amarelo-torrado do telhado

Saltei telhados como se fosse um pássaro,
saltei, saltei.
Saltei como se ouvisse gente
gritei, gritei.
Corri como um louco até me doerem as pernas
corri, corri.
Não tive gente, não tive assas, não tive medos
tive-me a mim.

Se passasse pela tua janela ouvia o teu coração
não consegui espreitar pela frecha, saltei pelo corrimão.

A tua casa é o palácio descoberto que te embalou sem querer,
e a noite não chegou tarde e fez-te adormecer.

Singularidade de um rapaz
Guardo-te a memória e o espaço que guarda as nossas vozes.
Guardo o teu rosto, a tua boca, o teu cabelo,
guardo a tua pele.

Queira de mim, agarrar-te e passar-te contra o tempo
queira eu libertar-me de ti, sem um único silêncio.

Uma aventura desprevenida, um lugar que morreu.
um silêncio que calaste
e eu, e eu…

 

Sussurro
Ouve-me, ouve-me nem que seja por um segundo,
escuta aquilo que digo.
Ouviste? Não? porquê?
Ai de mim, tanta vezes vencida pelo tempo,
ai de mim triste de quem não me quer.
Cala-te e ouve-me nem que seja por um minuto
cala-te e deixa-me falar horas, dias e meses,
deixa-me falar anos e anos
Deixa-me falar.

 

Desencanto

O teu jeito singelo compõem em ti a palavra.
Guardas-te o infortúnio do prazer só para não me dares a liberdade de o saber.
Com jeito te pedi para me amares,
mas a mariposa que te embala, não te fez chegar.
Porque a palavra é sem jeito e o castigo do olhar não te quer comigo.
E se a esperança chegar ao entardecer, diz-me,
que eu vou ter contigo.

 

Segredo

Guardo-te um segredo que só comigo ficará
e no enrole da aventura o segredo permanecerá.
O sino toca e os dias passam,
o frio tarda e o calor vence.
Não queiras ser o toque do despertador,
não queiras ser as lembranças guardadas
do que nunca foste.

Veste-te e dança comigo
e no enrolar balança-me contra ti.
Estica os braços e permanece assim,
hirto, cansado, frágil como sempre foste.
Não me peças nada, só um segredo
que em mim permanece.

 

O sonho

Ando de fronte e as peças do peito,
um quadro inacabado de um espaço.

Inalterado é as frases em demasia que te querem,
porque a tua silhueta deitada o quis,
que nos teus braços desaparecessem.

E perguntas então como foi,
e o bom, sai-te da boca.
Não te esqueças do corredor apertado
das flores em demasia,
sente o rir dos paços e a música da alegria.
 

Género: 
Top