Pretérito imperfeito

 

Pretérito imperfeito

Português

Eu queria um par de olhos a despir-me o desgosto,

E um par de mãos a tatear-me o medo,

E uma língua a lavar-me este gosto a azedo,

E uma luz ateada como um fogo posto.

 

Eu queria um par de olhos a vestir-me de encanto,

E um par de mãos a afagar-me a essência,

E uma língua a beijar-me a eterna demência,

E uma luz que fosse eco do meu canto santo.

 

Mas o que eu queria é pretérito imperfeito,

É um labirinto mudo, sem verbo ou sujeito,

Um monólogo insano, decadente e esquecido.

 

E o que de ti em meu peito guardo?

O espinho da rosa, o aroma do cardo

E os cacos febris de um amor perdido!

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