Pré-conceitos e Preconceitos. A importância do diálogo e da tábua rasa

 

Pré-conceitos e Preconceitos. A importância do diálogo e da tábua rasa

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Muitas pessoas vivem uma vida inteira ao lado de alguém sem realmente se conhecerem. E os motivos para tal são muitos e variados mas há um que assusta mais do que todos: o medo de se perguntar aquilo que sempre se considerou inquestionável.

Quantas pessoas já deram certamente por si, e eu presumo que isto aconteça com mais frequência no lado feminino, a interrogar-se sobre a pessoa que têm ao lado e a pensar se devem ou não fazer aquelas perguntas sobre aqueles assuntos que toda a vida lhes ensinaram ser “coisas de homens”?

E pergunto ao contrário, será que os homens conseguirão passar por cima de tradições e mitos e pré-conceitos e chegar ao cerne daquilo que realmente preocupa as mulheres? Conseguirão de facto satisfazê-las por completo? Ou viverão ambos um jogo de faz-de-conta sempre com dúvidas e medos que se vão enraizando à medida que o tempo passa resultando em duas situações frequentes: ou se muda ou se ignora?

Sempre tive uma certa curiosidade em perguntar aquilo que muitos pensam mas ninguém pergunta e muitas vezes por medo de se ou vir a resposta. Mas, e se a resposta não for de forma alguma satisfatória? Se não for de facto uma resposta, mas sim uma desculpa? Pois é, maior parte das vezes lida-se com o chamado drible, ou, a fuga. Ninguém gosta de falar de assuntos desconfortáveis, mas a verdade é que muitos desse dito desconforto existe realmente porque nunca ninguém abordou os assuntos como deve ser e porque ambas as partes têm sérias dificuldades em sair do papel que lhes foi atribuído na peça da vida.

Nem sempre nos é fácil encontrar o mote certo para seguir em frente! Há alturas de completa estagnação ou revolta muitas vezes infundada ou pura e simplesmente de indignação com algo que muitas vezes nem percebemos muito bem o que é.

Mais do que nunca e importante existir compreensão e apoio, aquela proximidade e cumplicidade tão rara na vida que faz com que alguém nos tome nos braços só por perceber uma nuvem no nosso olhar.

Mas já ninguém olha os sinais. Já ninguém tem tempo para os ver na sua vida ocupada de prazos e horários a cumprir. Infelizmente saímos todos a perder.

No fundo somos todos umas crianças em ponto grande disfarçados atrás dos nossos fatos e tailleurs, disfarçados atrás do nosso sentido de falsa maturidade e responsabilidade.

Vejo as coisas da seguinte forma: o mundo está a mudar. Em muitas casas já não se coloca aquela velha questão de uma mulher ter que casar porque precisa de um homem, porque este a sustenta financeiramente, porque este é uma muleta para si. Infelizmente ainda há muitos lares em que esta situação acontece e em que as próprias mulheres se colocam numa posição submissa face ao homem porque há a necessidade por parte de muita gente de criar uma hierarquia de poder e nisto os homens vão-me desculpar, mas o carapuço assenta-lhes desde sempre!

Graças aos deuses já existem pessoas mais inteligentes do que isto mas que muitas vezes se sentem frustradas em determinadas situações da sua vida porque não conseguiram encontrar uma forma de se inserir, pensando de forma diferente.

Parece tudo demasiado complicado quando se pensa demais, é verdade, mas, também, caso o companheiro ou companheira seja de facto sincero nos seus sentimentos (o que também é difícil de discernir actualmente) e caso estejam dispostos a escutar-se e a comunicar, já há uma boa etapa do caminho percorrida.

Actualmente tornou-se importante certificar e assegurar a qualidade de tudo o que se faz a nível empresarial de forma a conseguir-se obter mais lucros mais reconhecimento, melhor funcionamento e organização e mais visibilidade.

Mas, provavelmente nunca ninguém pensou que seria interessante utilizar o mesmo procedimento a nível pessoal e a nível da nossa relação com os que nos rodeiam.

Porque não avaliarmos as condições da nossa vida e ver que opções e que ideias podemos implementar para a tornar mais vantajosa, mas proveitosa?

Porque não ponderamos, avaliamos, deitamos fora o lixo, organizamos as ideias, criamos arquivos do que interessa, colocamos no arquivo morto aquilo que já passou ou que ainda nos pode ser útil e tentamos, no fim orgulharmo-nos de ter a verdadeira empresa, a empresa da vida, a nossa empresa pessoal, a trabalhar sem burocracias, hipocrisias, crises, desgostos, traumas e a pulsar cheia de energia?

Ainda não conheci ninguém que fosse completamente feliz. Presumo que isso não seja possível porque para mim a felicidade é uma questão de atitude e de momentos que se vivem e nos marcam de uma forma positiva e os quais é importante multiplicar ao longo da vida de forma a que o saldo seja sempre positivo e que os momentos negativos sejam cada vez mais uma miragem.

Não acredito em pessoas que estejam sempre contentes. Acho que ser humano também implica indignarmo-nos, gritarmos, termos momentos de birra, mas para que tudo isso contribua para o nosso crescimento pessoal e que, caso cometamos erros (e não falo de erros graves), consigamos reconhecê-los e não os repetir.

Eu pessoalmente sou uma pessoa de emoções muito fortes e por vezes realmente explosiva e contraditória. Presumo que não seja muito fácil estar com alguém que nunca está completamente satisfeito ou que é imprevisível, mas digo em minha legítima defesa, que vivo e gosto de viver e de me sentir arrebatada e que isso só vale a pena quando vivemos tudo com paixão e entrega mesmo que as lágrimas por vezes corram soltas e incontroláveis, mesmo que por vezes os outros não nos entendam e apontem o dedo, mesmo que por vezes o mundo pareça contra nós, é importante perceber que cada pelo do nosso corpo vibrou e se eriçou com sinceridade e sentimento.

Mas quantos de nós já desistiram de acreditar na magia de sentir? Quantos perderam a esperança?

É verdade que há momentos cruéis que nos fazem perder aqueles que ousamos amar, é verdade que a dor permanece, mas, não será o mais importante o recordar os momentos maravilhosos? Não será melhor pensar que proporcionamos em vida tudo aquilo que também desejámos sentir por parte dos outros, mesmo os nossos desejos mais secretos?

Em suma todos temos o nosso destino traçado e todos sabemos que se há algo inevitável é o fim, mas porque não partir e deixar no ar uma energia positiva que encha os corações e os torne mais leves?

Gostamos tanto dos jogos de sedução que exercemos com os membros do sexo oposto, gostamos tanto de estar juntos e da emoção que isso nos traz, mas então, porque estragamos tudo tão facilmente?

Estará a relação homem/mulher eternamente condenada ou sofrerão ambos com as mesmas dúvidas?

Serão ambos metades um do outro que se complementam, mas a quem educaram desde sempre para se confrontarem em campos opostos e acentuando diferenças que se diziam ser intransponíveis, ou serão uma mera consequência da sociedade que os estrutura e define moldando-os com conceitos pré-aceites como sendo reais e correctos?

Não sendo psicóloga e sem pretensões para tal, sempre tomei como hobbie a observação do comportamento humano dos que nos rodeiam e com quem nos cruzamos diariamente.

Esta análise valeu-me igualmente bastantes dissabores e apontamentos críticos pois sendo uma pessoa bastante sensível à realidade envolvente, o observador acaba muitas vezes por ser o observado e vítima da sua própria observação, ao deparar-se tristemente com situações que preferia não conhecer.

E por isto entende-se o relacionamento entre as pessoas que indissociavelmente nos liga à realidade Mulher/Homem.

Toda a vida nós mulheres, mesmo as mais modernaças e auto-proclamadas “independentes” nos vemos rodeadas e absorvidas por uma série de conceitos e ideias claramente tendenciosas e que, de uma forma mais ou menos perceptível, interferem na nossa vida futura.

Senão vejamos: quem não teve uma mãe que teve uma mãe (e quanto mais recuada a geração mais o conceito se complica) que a influencia sobre o papel da mulher na sociedade, papel este onde é condição sine qua non, a subjugação ao homem?

Poder-se-ia dar “n” exemplos e muitas vozes dissonantes se exaltariam, mas na realidade analisando a coisa a frio e a fundo, contra factos não há argumentos.

Mas vendo bem, o problema não é de forma alguma exclusivamente masculino porque os homens também não são todos culpados dos males que assolam a sociedade! Não! A verdade é que são as mulheres em grande parte e tristemente falando, as culpadas da situação em que se encontram.

E é triste que alguns de nós, infelizmente e conscientemente, ainda muito poucos, consigam ter essa percepção e por tal sejam apontados de uma forma extremamente negativa.

 

                                                              Ana Resende

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Comentários

Questão importante

Questão importante que pode enriquecer o texto e as suas questões a partir do debate: porquê que os homens tendem menos a pensar o 'impensável' e a preocuparem-se com o universo d@s amantes?

Tenho em mente a seguinte parte do texto: 'Quantas pessoas já deram certamente por si, e eu presumo que isto aconteça com mais frequência no lado feminino, a interrogar-se sobre a pessoa que têm ao lado e a pensar se devem ou não fazer aquelas perguntas sobre aqueles assuntos que toda a vida lhes ensinaram ser “coisas de homens”?'

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