A voz que não se ouve (Poesia de Rua)

 

A voz que não se ouve (Poesia de Rua)

Portuguese

Num espaço de quatro paredes, vive uma mente fechada,
Ela é ambiciosa, orgulhosa e apaixonada.
Não vive no faz de conta, vive tudo intensamente,
Procura fazer bem, ainda que leve com o mal de frente,
Tenta ser paciente para conseguir o que não tem, 
No meio de tanta gente que se atropela p'ra ser alguém.
Observa mais do que julga, tem o dom da palavra,
Dita rimas e prosas mentalmente ignoradas.
Não se acomoda com opiniões isso é p'ra gente moderna,
Pois no modernismo tudo conta e o cinismo nunca hiberna,
Essa mente não se ouve, tenta ser sempre discreta,
Nesta vida tudo o que é bom fica sempre na reserva,
Agora tu vê-te ao espelho, limpa a cara, tira a máscara,
Encara-te de frente, não fales, repara,
A tua aparência até que pode iludir os insaciáveis
Mas produtos nacionais são sempre incomparáveis...
Não é certo ter que lidar com tanta cara borrada,
Com caras que sorrias só depois de lhes dares porrada.
Não há abévias p'ra quem vive a fugir da humildade,
P'ra quem responde com maldade à adversidade.
Pela frente és a maior, a Madre Teresa de Calcutá,
Por trás levas com ele, usas, trocas e já está!
Não percebo então como é que há vadias e frescas,
Como há mulheres da vida, prostitutas e animalescas,
Será preciso ser assim para te darem valor?
Será preciso morrer de frio mas vestires-te com calor,
Será preciso fazeres parte da alta sociedade,
Será preciso viveres com tudo e nem teres dinheiro p'ra metade...
As palavras ficam feias, ficam cheias de repugnância,
Não foi com isto com que sonhei desde a minha infância,
As pessoas eram belas, os erros eram combatentes,
Deviam ser das novelas ou dos pensamentos inocentes,
Essa mente fechada era livre e encorajada,
Todos queriam ser como ela, era a mais invejada,
Em quatro paredes igualmente sentada,
Escrevia, pintava, dançava e cantava,
Sentia-se artista, já lhe chamaram de mágica,
Hoje esconde-se no abrigo da actualidade trágica,
Acredita nunca mudes, por quem não te viu crescer,
Fizeste tudo o que podias para o bem não se perder,
Sempre foste a favor dos que estavam desvalorizados,
Sempre ajudas-te os amigos que estavam preocupados,
Agora vive o sonho que querias em criança,
Desperta o rancor na escrita e sente a esperança,
Não ouças as vozes que não queres ouvir,
Não sintas o medo de não conseguir,
Fecha os olhos, imagina-te noutro lugar,
Onde todos se respeitam e se fazem respeitar,
Agora sente o aroma do amor, sente bem esse cheiro...
E lembra-te, não desperdices o teu tempo que hoje tempo é dinheiro.

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