Contemplo as estrelas
Sobre o sono da floresta
Uma aresta de vida
Entoa ao sabor do vento
Sem direcção e fim também
Só os meus ouvidos
Liberto
O meu umbigo
De gato
No sol noturno
O equador
Desce em escada
Ao tremor
De uma cidade quieta
Que eu traduzi
Longe
O sismo da morte
Pode habitar-me
Além da sorte
Dos pássaros
Nunca hoje
Outra idade
Eleva-se ao tapete
Dos sonhos
Tombo para as estrelas
Que dormem
Sobre planetas de cal
Acesas nos poemas
Que chegaram ao fim
Sem a dúvida
De que envelhecemos
Em grãos de sal
Solto o meu baloiço
De sonhos
Sobre terra de mel
Uma abelha voa a prumo
Bate as asas ao sabor
De uma vida completa
Que eu transcrevo e apago
Vivo
Para esfiar
O sol de inverno
Que abandonaste
Sobre os pés descalços
Dos deuses
Que esqueceram
O inverso de si
No lugar
Sei do trigo
Para onde vai
Adivinho
O vento do sul
Antecipo
Tudo como dantes
Porque dói tanto então?
Adivinho o espelho
Das horas
Pendente
No dia puro
Que me deixaste
Para conhecer
Todas as sombras
Vejo-te
Como o Outono
A chegar
De poucas vestes
E sem maquilhagem
Naquela hora
Era como os gatos
Entendia tudo
Mas não queria saber
Ontem vi um arco-íris.
Perguntei-me quando foi a última vez que vi uma arco-íris? Não consegui lembrar. Foi aí que percebi que certamente fez muito tempo.
Do nascimento da arte não hà àtomos. È criação pura, chega à morte de outra coisa ainda. Até ao infinito sem ninguém a descobrir, em cada instante de vida flui na indefinição e perfil sem traço.